Não era branca nem loira
A menina era morena.
Tão grande eram seus olhos
que no rosto não cabiam.
Tão estreita a sua cintura
que na pulseira entraria
quando ia pelas ruas
tempestades produzia,
vendavais de admiração
com trovões de simpatia:
que negra mais estupenda,
que mulata tão bonita!
(Abel
Romeo Castillo, Equador)
nos mestiços e a
Em 1946, Emilio Ballagas poeta e ensaísta cubano publica Mapa de la poesia negra americana, pela Pleamar de Buenos Aires, uma valiosíssima antologia da lírica negra. Reunindo um material que de outra maneira seria de difícil acesso, oferece um amplo panorama da poesia afro-americana onde dois terços dos países da América estão representados.Daí uma diferenciação de tons e de temas que Emilio Ballagas na apresentação da antologia explica como essencialmente marcada pela Biblia, a poesia norte-americana; pela paisagem, danças e religiosidade, a de Puerto Rico; pela magia do sobrenatural, a do Haiti. A do Uruguai e da Argentina, pela evocação carnavalesca.Como denominador comum- motivos da estética universal - alusões ao drama da escravidão, conflito de sanguesplasticidade da mulher negra.
O corpo feminino, os seios,
lábios, dentes, pele estão presentes a cada verso. A mulher negra é flor de ébano, Vênus de bronze, a
que foi talhada em diarita, a de corpo perfeito, a de contornos gregos, a de flexível cintura.
Sua pele é de azeviche ou de canela morna; seus lábios de mel de néspera ou como
que recém picados de vespa; seu olhar
de sol ou de gazela.
Expressões de entusiástica
admiração que nos poemas se acrescentam a uma não menos entusiástica certeza de
sua capacidade de amar. Assim, se mostra fatal
maçã ou leoa no amor. Com algo de gata ou
de pantera, uma cálida baía, uma água sensual, um porto de açúcar, mortal perdição, insaciável nas suas iras como o tigre / terna no amor como uma pomba.
Negra ou mulata, verdadeira
mulher-talismã ela é cantada em verso pela sua beleza e em verso é cantada pela
arte amorosa de que é conhecedora.Fascinante e bela, nos
textos de Mapa de la poesia negra americana
os poetas fazem dela um ser que parece estar à margem do destino daqueles que
são a sua gente e que, de uma forma ou de outra, através das fronteiras e dos
anos permanecem condenados à escravidão, à submissão, à exploração.
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