e mostra ao
mundo, com tua angústia rebelde, tua voz humana... Regino Pedroso
Corria o ano de 1944 e no
Suplemento Literário de Diretrizes,
do Rio de Janeiro, apareceu um poema traduzido do espanhol por Jorge Amado. Seu
autor, o cubano Regino Pedroso, nascido em 1899 aos quarenta anos recebera o Prêmio
Nacional de Poesia de seu país com o livro Más
alla canta el mar. Com o poema “Salutación
al taller mecânico” de 1927, iniciara a poesia social em Cuba e então,
voltado para o social, seus versos se prendem à temática negra.
O poema “Irmão negro”
atravessou fronteiras. Foi publicado não somente no Brasil, nesse ano de 1944,
como em inglês nos Estados Unidos. Um interesse que talvez tenha origem nos
seus versos duros e enérgicos – assim
os define Emilio Bállaga – que ultrapassaram o momento de descrição pitoresca e
sentimental da poesia negra para visar, não apenas a realidade hostil que
envolve o homem negro mas uma urgente necessidade de luta.
Constituído de uma dezena de
estrofes de número desiguais de versos, o poema se inicia com o vocativo Irmão negro, expressão que irá se
repetir nessa espécie de estribilho anunciador da vontade do poeta que, ao assumir
o destino do outro, a ele oferece a sua voz. E, afirma peremptório: Eu sou tua voz.
Mas é o próprio poeta e não
o outro que dirá do destino de fome, de cativeiro, de suor derramado e de inconsciente
submissão e que irá ordenar: aprende, olha, escuta, onde quer que você esteja.
Lembrando o passado remoto
em que o negro vivia livre sobre a terra, como as árvores, como os rios, e o
outro passado mais recente, em que foi dominado pelo látego, constata que, nos
tempos presentes, é igualmente explorado: o rico
faz de ti um brinquedo. Também que a dor, a angústia, o ódio se mascaram,
ainda no riso, ainda, na dança.
Não somos mais que negros? / Não somos mais que dança? / Não somos mais que rumba? ele se pergunta quando a
resposta já fora anteriormente dada nas pequenas estrofes de dois versos.
Repetindo as palavras primeiras do poema, introduzem as que definem sua
dolorida trajetória de tristezas e de lágrimas.
Um caminho trilhado por
muitos: os do Haiti, os da Jamaica, os de Nova Iorque. Por todo aquele que é mais irmão
na ânsia do que na raça.
Assim, quando conclama enluta um pouco teus tambores / silencia teus maracás e faz
ouvir tua verdadeira voz, suas palavras de ordem não desejam fronteiras.
Mas, nos espaços negros do
Continente, o silêncio continuou. Se, alguma vez se levantou nesses cinqüenta
anos que passaram quase tudo ainda está para ser dito, quase todo um espaço
está ainda para ser conquistado.
No Haiti, na Jamaica, em
Nova Iorque. E no Brasil de Jorge Amado.
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