Um castelo no pampa, de Luiz Antonio de Assis Brasil, é um romance constituído de três
volumes: Perversas famílias, (1992),
Pedra da memória, (1994) e Os senhores do século (1995) publicados
pela Mercado Aberto de Porto Alegre. Uma longa narrativa a qual se acrescentam
outras tantas que, abarcando quatro gerações, avança pelo tempo e se constitui
um mundo de muitas vozes.
Em Perversas famílias, a história de Plácida é contada pela voz de um
narrador onisciente.
Pálida, a cabeça pequena, magra como um galgo, dedos agudos de marfim opaco, aparece no
romance já adulta, recém vinda da Suiça onde estivera onze anos, estudando.
Dona de vários caixotes de livros e vítima constante de ataques de dispnéia,
casa com João Felício Borges da Fonseca e Menezes, rico solteirão.
Jovem como uma parreira na primavera tem um primeiro filho e o segundo três anos
depois, quando enviuva. Rica, vive para esse filho menor que o mais velho já se
fora estudar em São Paulo, para suas leituras de Byron, Musset, Lamartine e
para seu piano. Guarda uma terna lembrança do marido e outra, dolorosa, nunca
abandonada, do infeliz amor, apenas percebido, nos seus anos adolescentes,
vividos na Europa. No rosto, eternamente
essa sombra de melancolia, esse mundo incompreensível de escassos risos e
sonhos mal disfarçados.
É quando entra na sua casa
como preceptor, recomendado pelo Bispo amigo da família, Félix del Arroyo.Então, esse narrador que
tudo sabe e de Plácida só dizia o que era possível ver e escutar, passa a ser
mais próximo, a se comprometer com ela num relato feito na segunda pessoa.
São cinco capítulos,
entremeados aos demais que dizem de sua renascente feminilidade e o que desse
renascer se segue.
Sobrevém a transgressão (não te comandas mais), depois o fastio (vês
que [Félix] é um objetivo indigno de tantos poemas acumulados em teu sangue
durante anos de dolência e leituras),
o desalento (emergias em um estado de
prostração comparável ao limbo, onde tudo
se dissolvia num viver sem dores nem
pesares), a morte (a tampa te reduz à
condição de coisa, e quando balouças em direção porta, à carreta fúnebre de cavalos negros
empenachados, em direção ao cemitério, nada mais sentes, nada mais te comove).
E os gestos de Plácida são
descritos, adivinhados os seus significados e conhecidos seus pensamentos e
seus atos mais recônditos. Tudo o que faz é registrado: se lê, toca piano, olha
para a praça ou para os objetos que a rodeiam, os passos que dá pela sala de
visitas. Também as razões que a fazem agir e que estão na origem de seus sentimentos
e de seu drama como prisioneira das convenções. Para fugir delas, se deixa
morrer na ignomínia ao dar à luz a um filho espúrio que a sua viuvez torna
pecaminoso.E o pronome tu estabelece uma intimidade com ela
que, por vezes, parece se constituir um alter ego, mostrando-a profundamente
humana nas suas misérias e nas suas grandezas de mulher que desejou, apenas, viver.
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