domingo, 9 de abril de 1995

Última página 1

          No dia 28 de janeiro de 1992, às 23:30 horas, em Berna, na Suissa, Carlos Droguett dá por terminado seu romance Eloy.  
         Um caminho longo fora percorrido desde que, num dia de neblina, ele soubera que o chileno perseguido tinha sido cercado e morto pela polícia.
 
        Em 1954, três anos haviam se passado. Carlos Droguett deixa emergir a emoção que ainda guardava e num ímpeto de torrente, escreve em quinze dias o que imagina tenham sido os últimos momentos desse homem encurralado. Eloy, publicado cinco anos depois, seria considerado pela crítica argentina como um dos três melhores romances da década de 60.
 
        Sua primeira edição foi pela Seix Barral de Barcelona e a ela se seguiram as edições argentina, chilena e cubana e aquelas da Dinamarca, Alemanha, Holanda, Polônia, Itália, França e Tchecoslováquia.
 
        E, em junho de 1994, pela Editorial Universitária de Santiago, a primeira edição da versão definitiva publicada quarenta anos depois de ter sido escrito.

        Aos oitenta anos, Carlos Droguett já pode dispor, como dono absoluto, de seu tempo. E o exílio, já agora irreversível – na Suissa estão os restos de sua mulher – certamente tornou mais forte e irreprimível a necessidade de voltar a Eloy que foi perseguido e morre encurralado.
 
        O cotejo da última página do romance, edição de 1959 da Seix Barral com o texto correspondente da edição de 1994 se mostra extremamente sugestivo.
 
        Numerosas são as modificações efetuadas: substituídos por vírgulas, alguns pontos finais foram eliminados; trocadas de lugar, uma ou outra palavra; muitas, eliminadas ou substituídas. E, acrescentadas.
 
        Na verdade, deveras expressivo, o número de acréscimos. São palavras, expressões, frases inteiras que se inserem ao longo do texto buscando precisar, reforçar, modificar um gesto, um sentir do personagem nos momentos que antecedem a sua morte.
 
        Analisar cada uma dessas mudanças levará, a múltiplas constatações que irão oscilar entre a aparentemente simples e inexplicável opção lingüística e aquela relacionada com a elaboração do personagem nesse universo no qual ele se inscreve.
 
        Nenhuma delas, evidentemente, será prescindível na tentativa de compreender a gênese do texto e os seus motivos.

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