No dia 28 de janeiro de
1992, às 23:30 horas, em Berna, na Suissa, Carlos Droguett dá por terminado seu
romance Eloy.
Um caminho longo fora percorrido
desde que, num dia de neblina, ele soubera que o chileno perseguido tinha sido
cercado e morto pela polícia.
Em 1954, três anos haviam se
passado. Carlos Droguett deixa emergir a emoção que ainda guardava e num ímpeto
de torrente, escreve em quinze dias o que imagina tenham sido os últimos
momentos desse homem encurralado. Eloy,
publicado cinco anos depois, seria considerado pela crítica argentina como um
dos três melhores romances da década de 60.
Sua primeira edição foi pela
Seix Barral de Barcelona e a ela se seguiram as edições argentina, chilena e
cubana e aquelas da Dinamarca, Alemanha, Holanda, Polônia, Itália, França e
Tchecoslováquia.
E, em junho de 1994, pela
Editorial Universitária de Santiago, a primeira edição da versão definitiva publicada
quarenta anos depois de ter sido escrito.
Aos oitenta anos, Carlos
Droguett já pode dispor, como dono absoluto, de seu tempo. E o exílio, já agora
irreversível – na Suissa estão os restos de sua mulher – certamente tornou mais
forte e irreprimível a necessidade de voltar a Eloy que foi perseguido e morre
encurralado.
O cotejo da última página do
romance, edição de 1959 da Seix Barral com o texto correspondente da edição de
1994 se mostra extremamente sugestivo.
Numerosas são as
modificações efetuadas: substituídos por vírgulas, alguns pontos finais foram
eliminados; trocadas de lugar, uma ou outra palavra; muitas, eliminadas ou
substituídas. E, acrescentadas.
Na verdade, deveras
expressivo, o número de acréscimos. São palavras, expressões, frases inteiras que
se inserem ao longo do texto buscando precisar, reforçar, modificar um gesto,
um sentir do personagem nos momentos que antecedem a sua morte.
Analisar cada uma dessas
mudanças levará, a múltiplas constatações que irão oscilar entre a
aparentemente simples e inexplicável opção lingüística e aquela relacionada com
a elaboração do personagem nesse universo no qual ele se inscreve.
Nenhuma delas,
evidentemente, será prescindível na tentativa de compreender a gênese do texto
e os seus motivos.


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