Nasceu em 1857, num pequeno
povoado da Galícia, Espanha. Mas, abstraindo os clássicos do gênero (Bartolomé
Hidalgo, Hilário Ascasubi, José Hernándes, Antonio D. Lussich, Estanislao del
Campo) sobressai entre os criadores da poesia gauchesca. Em muitas de suas
composições conseguiu ultrapassar o momento de mero diletantismo por assuntos
relacionados aos usos campeiros, característica da maior parte dos poetas que
embora tenham alcançado popularidade e prestígio pouco significaram, diz o
crítico Zum Felde, para a Literatura uruguaia.
José Alanos Y Trelles, mais
conhecido por seu pseudônimo El viejo Pancho, viveu perto de Montevidéu, numa
região mais agrícola do que pastoril. Porém, adquiriu de tal maneira o tipo
gaúcho que soube, então, expressar melhor do que ninguém dentro da poesia
lírica moderna, os seus sentimentos assim como descrever a realidade dos
campos.
Em 1915, foi publicado pela
editora Renacimiento de Montevidéu Paja
Brava, pequeno livro de poemas que Alonso y Trelles diz serem feitos de
versos toscos, desarmônicos, mal rimados.
Talvez tenha escolhido
somente uns poucos temas para inscrever nos quadros descritivos da vida gaúcha.
Momentos de vida que já passaram e que permanecem apenas na lembrança de um
velho. Mas, se nutrem de um lirismo até então inexistente na poesia gauchesca.
Construídos todos na
primeira pessoa - salvo uma ou outra exceção - os poemas contam de um amor que
existiu no passado e do qual só resta o sofrimento daquele que foi vítima do
abandono, da traição, do desdém.
A traição, punida pelo corte
da trança bem perto da nuca é apenas um gesto que não anula o cruel sentimento
de perda que, então se instala em quem foi traído: Numa manhã aziaga, / que recordá-la não quero, / eu te cortei rente ao
couro / com o fio de minha adaga / que assim em minha terra se paga / o
desprezo não merecido / da mulher que ao esquecimento, deu um sagrado
juramento, / e desprezou o sentimento / do gaúcho que a amou.
O abandono, declarado na
palavra "adeus"; ou, que de repente, é percebido na casa vazia: eu teria que encontrar meu rancho sozinho /
como um pequeno ninho de passarinho / depois de voar a cria.
E o desdém, o desdém assassino, maldito, o que amarga a vida, o que faz beber e leva à cruel humilhação
de ver recusado o amor oferecido e deixa marca para toda a vida: deixem-me agonizar em campo aberto / o rosto
para o céu / prá ver bem quando faça noite, / a adorada estrela / que roubou a
luz de uma pupila / que envenenou toda a minha existência!
E essa marca, cicatriz
incurável será sempre a razão da confidência que, muitas vezes, desdenha tudo que
não seja a figura da mulher que foi a
causa de todas as penas, a ingrata,
a de um coração cruel. E o sofrimento
cristalizado na alma do que sofreu o desprezo ou o esquecimento.
No poema "La
montonera", quando se apresenta a hora da luta, todos têm, para por no
chapéu, um pedaço de fita. E a voz do solitário lamenta não ter recebido de mãos
femininas uma divisa bordada embora o
nome daquela que ainda adoro, / nos meus lábios ao morrer, florescerá.
E outro solitário é aquele
cuja voz se dirige ao bodegueiro para lhe pedir que encha o copo de cachaça. Ao
chegar em casa, de madrugada, encontrara rastro e a mulher, a moça mais linda que os olhos viram na
terra inteira, acordada. Para não lembrar que vira esses rastros se refugia
no álcool.
Na verdade, embora quase
sempre se desconheçam os motivos que o pudor ou o medo de sofrer ainda mais impedem
de serem ditos, trata-se sempre de um amor burlado. E é esse o tema central dos
poemas. A ele se subordina tudo aquilo que deve estar presente na poesia
gauchesca que, procurando fixar um tipo humano e sua realidade, em geral se
aprisiona em recursos limitados.
Profundamente líricos os
versos de El viejo Pancho transcendem esses limites, expressando sentimentos
que, talvez, possam lembrar exageros ou misoginias. Mas que, no entanto,
continuam sendo ainda próprios do ser humano apesar do tempo que passa e das
transformações que ocorrem na maneira de viver e de olhar o mundo.
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