domingo, 12 de março de 1995

Delmira Agustini: a mulher silenciada

          Delmira Agustini, poetisa uruguaia, nascida em 24 de outubro de 1886, é autora de El libro blanco e de Los cálices vacios.
 
          Seis anos medeiam entre a publicação de um e de outro. Quando, em 1907, publicou o primeiro, tinha vinte anos e sua veia poética ocasionou um movimento de assombro nos círculos literários da época, diz o crítico Alberto Zum Felde. Ainda sutil, difuso, nessas páginas, um erotismo mascarado pelo que então, foi considerado um profundo pensamento filosófico. Erotismo que emergiria plenamente, no livro publicado em 1913, Cálices vacios que irá fazer da poetisa um ser isolado, vivendo em meio à desaprovação, originada dos tradicionais preconceitos que dominavam o cotidiano de uma cidade no início do século.
 
          Um suposto desnudar-se que não foi tolerado pelos padrões da época e que, na verdade, quem sabe, tenha se constituído, apenas, num falar de sonhos. Assim, no poema "El intruso" (que na edição da Losada faz parte de El libro blanco) embora queira se tratar de um amor consumado, os recursos estilísticos que o constroem  - tu llave de oro cantó en mi cerradura , tus ojos de diamante, tu  olor a primavera, tu forma fué una mancha de luz e de blancura,-  fazem com que o irreal e algo de prosaico se mesclem e se submetam à verdade introduzida pelo vocativo amor, palavra inicial do poema. Em "Visión" que faz parte de Los cálices vacios, igualmente, é alguém que aparece  na alcova;  não mais luminoso mas taciturno e se inclinando para o corpo em oferta que estava à espera del abrazo  magnífico; um abrazo /De cuatro brazos que la gloria viste / De fiebre y de milagro será um vuelo!
 
           Mas, desse alguém há um voltar atrás, um se envolver em sombras.
 
          Se no primeiro poema é, como diz o título, um intruso que se apresenta e que tudo  iluminou nessa noite trágica, e soluçante, soluçante e escura, no poema de Los cálices vacios, esse alguém é presença desejada, mas  em tons de sombra e nas sombras se esvanece. Pelos cantos da noite há silêncio e sombra e solidão; a alcova se agiganta de solidão e medo. A expectativa e a espera desse abraço, vestido de febre e de milagre, se torna vã.
 
          Porém, ter querido esse abraço - ele será um vôo - e ter ousado exprimir esse desejo fizeram da poetisa uma mulher incompreendida.
 
          Mulher que no dia 6 de julho de 1914 foi assassinada pelo marido de quem estava se separando. Tinha vinte e oito anos e dela ficaram os versos.

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