Delmira Agustini, poetisa
uruguaia, nascida em 24 de outubro de 1886, é autora de El libro blanco e de Los
cálices vacios.
Seis anos medeiam entre a
publicação de um e de outro. Quando, em 1907, publicou o primeiro, tinha vinte
anos e sua veia poética ocasionou um
movimento de assombro nos círculos
literários da época, diz o crítico Alberto Zum Felde. Ainda sutil, difuso,
nessas páginas, um erotismo mascarado pelo que então, foi considerado um profundo
pensamento filosófico. Erotismo que emergiria plenamente, no livro publicado em
1913, Cálices vacios que irá fazer
da poetisa um ser isolado, vivendo em meio à desaprovação, originada dos
tradicionais preconceitos que dominavam o cotidiano de uma cidade no início do
século.
Um suposto desnudar-se que
não foi tolerado pelos padrões da época e que, na verdade, quem sabe, tenha se
constituído, apenas, num falar de sonhos. Assim, no poema "El
intruso" (que na edição da Losada faz parte de El libro blanco) embora queira se tratar de um amor consumado, os
recursos estilísticos que o constroem - tu llave de oro cantó en mi cerradura , tus
ojos de diamante, tu olor
a primavera, tu forma fué una mancha de luz e de blancura,- fazem com que o irreal e algo de prosaico se
mesclem e se submetam à verdade introduzida pelo vocativo amor, palavra inicial do poema. Em "Visión" que faz parte
de Los cálices vacios, igualmente, é
alguém que aparece na alcova; não mais luminoso mas taciturno e se inclinando para o corpo em oferta que estava à espera
del abrazo magnífico;
um abrazo /De cuatro brazos que la gloria viste / De fiebre y de milagro será
um vuelo!
Mas, desse alguém há um voltar atrás, um se
envolver em sombras.
Se no primeiro poema é, como
diz o título, um intruso que se apresenta
e que tudo iluminou nessa noite trágica, e soluçante, soluçante
e escura, no poema de Los cálices
vacios, esse alguém é presença desejada, mas em tons de sombra e nas sombras se esvanece. Pelos
cantos da noite há silêncio e sombra e solidão; a alcova se agiganta de solidão e medo. A expectativa e a espera
desse abraço, vestido de febre e de milagre,
se torna vã.
Porém, ter querido esse
abraço - ele será um vôo - e ter ousado exprimir esse desejo
fizeram da poetisa uma mulher incompreendida.
Mulher que no dia 6 de julho
de 1914 foi assassinada pelo marido de quem estava se separando. Tinha vinte e
oito anos e dela ficaram os versos.

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