Em 1973, a Noguer de Barcelona
publicou El
hombre que trasladaba las ciudades, um romance construído a partir das crônicas
da Conquista da América. Carlos Droguett, sem se afastar da verdade histórica
contida nesse relato oficial, o refaz dando-lhe vida e criando uma das mais
perfeitas e belas obras da Literatura do Continente. Uma expressão rara, como
que feita somente de achados, um sapientíssimo uso dos recursos romanescos
fazem dessa obra um impressionante itinerário onde predominam linhas sinuosas
e repetitivas cujo avançar e recuar permitem seja vislumbrado o universo desconhecido
que os espanhóis cheios de sonhos e se perdendo no tempo quiseram conquistar.
As carretas, adentrando-se em terras desconhecidas, avançam carregadas, procurando um lugar onde assentar a cidade recém fundada. Elas fazem parte de um cenário que o romancista já afirmou desconhecer e que, então, ele constrói apenas a partir de breves referências à topografia e, sobretudo, a partir de elementos essencialmente sensoriais.
Nas raras vezes em que uma
serra, um rio, uma planície recebe menção nesse acompanhar do mover-se lento
das carretas, é apenas para relacionar o aspecto da paisagem com algo que acontece:
cavalos despencando-se pelas serras abaixo, ovelhas fugindo esbaforidas pelo
mato fechado, o capitão olhando para um monte que parece se desfazer na neblina
do sol. Mas,ainda assim, no breve
espaço esboçado se estabelece o cenário de cores, sons, odores, de
luminosidade cambiante onde irá se desenrolar o trágico percurso dos espanhóis
conquistadores.
É o azul do céu ou é o céu
avermelhado cheio de nuvens e de nevoeiro ou é o céu negro, carregado de água.
É o grasnar de bandadas de pássaros, o latir dos cães, o relinchar dos
cavalos, o sussurrar do vento, o ruído da fogueira se consumindo. É o perfume
das flores e das macegas, das pétalas trêmulas, das folhas frescas e da seiva,
o perfume seco do milho e do trigo.
São notas esparsas, vagas e
imprecisas que pontilham o denso texto em que o escritor chileno retoma o
recorrido dos espanhóis chefiados por Juan Nuñez de Prado em busca da posse do
Continente.
Não o retrata mimeticamente
mas em imagens fugazes que lhe conferem uma presença plena, contínua, verossímil
e de muita beleza.
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