A Indesejada das gentes,
assim a chamou Guilhermino Cesar, em janeiro de 1984, quando ela veio em busca
de Ligia Morrone Averbuck.A intelectual gaúcha morria aos quarenta e três anos,
deixando inconclusa sua tese de doutoramento. Guilhermino Cesar dedicou-lhe um
artigo no “Letras e Livros” do Correio
do Povo, em que louva o extraordinário trabalho que ela realizara à frente
do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul e suas qualidades como
pesquisadora.
Dez anos se passaram e,
agora, neste último dezembro, foi sua vez: a Indesejada das gentes levou-o aos
oitenta e cinco anos, a maior parte dos quais passados no Rio Grande do Sul
onde chegou vindo de Minas Gerais, em setembro de 1943.
E o Rio Grande teve, então,
o privilégio de usufruir nesses anos todos do impecável, entusiasta e brilhante
trabalho intelectual de Guilhermino Cesar, que não se limitou à publicação de
uma vintena de livros mas a essa constante presença no suplemento cultural do Correio do Povo de Porto Alegre.
Presença do poeta - o
magnífico “Já desço” foi publicado em 26 de março de 1983; presença de um
articulista de muitos interesses mas voltado, sobretudo, para a Literatura e
para a História do Rio Grande do Sul.
Artigos que não se
constituem apenas fontes de informação ou de interpretações críticas como
refletem as preocupações de um professor e de um pesquisador que pensa e que
trabalha, acreditando que na Universidade assim é que deve ser.
Como pesquisador,
Guilhermino Cesar parte das fontes primárias que, no Brasil, nunca foram
suficientemente estudadas; como crítico se aproxima, somente, das obras que lhe
proporcionam prazer: Nunca li para não gostar. Leio, ao contrário, para gostar, para compreender e louvar
a obra alheia, escreveu em 23 de
julho de 1983.
E, assim procede, elogiando
as obras que lhe agradam, ainda que esquecidas ou ignoradas pelos críticos e
pela mídia e, calando sobre as que não o emocionam.
Como professor, porém, não
perdoa essa crítica que define como palavrosa
que a nada conduz e esse importado tecnicismo
pedante que substitui o ensino guiado pela emoção.
O seu confessar preferir
sempre ao invés do alienígena tudo quanto
venha marcado antes de mais nada por expressão
afetiva nossa esteve coerente com as pesquisas e trabalhos que realizou.
Era fervilhante de idéias e dominado por um contínuo desejo de abrir caminhos
para futuros estudos. E aos seus artigos cabem o que uma vez disse sobre as
crônicas de Rubem Braga: são um ato
necessário.
Em novembro de 1983, ao
fazer o necrológio de seu amigo o pesquisador gaúcho Abeillard Vaz Dias
Barreto, também se referiu à morte como à “Indesejada das Gentes”, aquela que não perdoa a ninguém; e vai ceifando sem
parar, aqui e ali, talvez com o
intuito de nos lembrar que a cláusula final não é um castigo, mas um prêmio.
Como todo mortal, ao prêmio
e ao castigo ele se submeteu. Mas dele ficaram vivos, os versos e as palavras.
Rastros luminosos prolongando o seu viver.

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