Em 1945, Carlos Droguett
escrevia Eloy, romance baseado num
fato real ocorrido três anos antes: a morte de um perseguido chileno pela
polícia.
Publicada na Espanha em
1959, seguiram-se as edições da Argentina, Chile e Cuba e as traduções para o
italiano, alemão, dinamarquês, holandês, tcheco, polonês, francês e
português.
Sem dúvida, é a obra do
romancista chileno que mais interesse provocou.Inclusive, a versão cinematográfica,
realizada em 1968.
Embora os primeiros críticos
tenham se fixado mais no assunto da obra - as últimas horas vividas pelo personagem,
cercado de polícias - a crítica posterior, segundo Teobaldo Noriega, iria observar
que certos procedimentos narrativos, no momento em que a obra foi escrita,
ainda eram desconhecidos no Chile.
Mas, ainda assim, as
diversas edições e os múltiplos trabalhos sobre o romance não foram suficientes
para que Eloy e os demais romances de
Carlos Droguett se tornassem conhecidos no seu país. E isto só foi acontecer,
quando em 1970, ele recebeu o Prêmio Nacional de Literatura.
Alguns anos depois, em
entrevista concedida a Teobaldo Noriega, em Berna, onde se exilara depois do
golpe de Estado ocorrido no Chile, comentando o significado do Prêmio, ele
diria: O Prêmio Nacional de Literatura
mais do que a mim, afetou os críticos e os professores de Literatura que se
viram obrigados a declarar essa data como a de meu nascimento.
Na verdade, a não ser a sua
“trilogia da conquista”, Supay el
cristiano, Cien gotas de sangre e
docientas de sudor e El hombre que
trasladaba las ciudades, todos os seus romances foram publicados fora do
Chile e fora do Chile se publicaram os trabalhos dedicados a sua obra.
Agora, na véspera dos
quarenta anos da gênese de Eloy, é
preparada nova edição da obra revista pelo autor.
Escrita em quinze dias,
depois de guardar durante três anos a emoção sentida naquela manhã em que
soube que Eloy tinha sido morto pela
polícia, esta revisão que efetua, agora, se constitui, certamente, um
documento literário de enorme importância. Tanto no que se refere às
modificações formais efetuadas, quanto a visão do escritor em relação a seu
personagem.
O cotejo de uma página do
romance revista com a página correspondente da edição publicada em 1959 mostra
que não somente foram muitas as modificações como ocorreram em diferentes
níveis.
Houve mudanças de pontuação
e acréscimos de palavras e troca de palavras. Modificações que, por um lado,
agilizaram o texto ao substituir, por exemplo, as conjunções aditivas por
vírgulas e, por outro, intensificaram o emotivo quando as mudanças se
relacionaram com os nomes.
O que ocorreu na
substituição da palavra pantalón de
niño (calça de criança) pelo seu diminutivo, pantaloncito, sugerindo uma criança menor e, portanto, tornando
mais cruel a sua morte. Ou, ao substituir o adjetivo suave, que se referia à madeira da carabina por mansa, lhe confere uma qualidade (ou
defeito) humana.
O fato do romancista ter se
proposto a efetuar a revisão de Eloy
e, ao fazê-lo, sentir necessidade de tantas modificações - somente na primeira
página foram dezesseis - possui, certamente, muitos e importantes significados
que a análise do cotejo dos dois textos irá mostrar.
Mas, além dos estudos que
dão prioridade à forma e daqueles que se ocupam dos procedimentos literários,
da gênese dos textos e da relação do tema com o seu autor, essa nova edição de Eloy irá reafirmar a atualidade da
obra. Quer no que se refere à questão do indivíduo, que diante das
circunstâncias deve fazer uma opção, quer no que se refira à circunstâncias que
levam o indivíduo à determinadas opções.
Eloy era um artesão que um
momento de tensão transformou em marginal e como marginal foi caçado e morto pela
polícia.
Certamente a sua história
num Continente de misérias e de traumas sociais não pertence ao passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário