É espanhol o autor do
primeiro romance sobre o ditador latino-americano, Ramón del Valle Inclán,
nascido em Pontevedra, na Galícia.
Já era autor de muitos
livros quando, em 1926, ano em que a Espanha adotou a jornada de oito horas de
trabalho, publica Tirano Banderas.
Tinha sessenta anos e a consciência exata de que tudo o que escrevera até
então, não passava de musiquinha para
violino. Tirano Banderas é o primeiro
romance que escrevo. Meu trabalho
começa agora são palavras suas que Francisco Madrid, ao escrever-lhe a
biografia, registra.
Na verdade, a crítica
reconhece Tirano Banderas não
apenas como sua melhor obra, cuja perfeita construção interna e provocativo
manejo da linguagem se aliam a uma nova e inusual temática, mas como uma obra
revolucionária no panorama literário de seu tempo e, sem dúvida, o primeiro
romance esperpêntico.
A palavra aparece pela
primeira vez em 1920 na sua obra Luces
de bohemia para designar uma nova estética baseada no absurdo de uma
sociedade que se desagrega, no homem que perdeu toda dimensão heróica para se
converter em caricatura de si mesmo. Para se converter num fantoche, num
esperpento (espantalho).
É certamente possível
justificar essa estética a partir dos acontecimentos sociais e políticos da
Espanha em que Valle Inclán viveu. No entanto, ao criar um espaço imaginário -
Santa Fé de Tierra Firme, o território síntese que permite a existência do
Tirano, Valle Inclán o situa no Continente.
E Tirano Banderas, é tido como o livro que antecedeu aqueles que anos
mais tarde criariam, na ficção, a terrível figura do ditador latino-americano: El señor presidente, El otoño del patriarca, El recurso del método, Yo, el supremo. Brevemente, ele retrata
o ditador e dilui a sua ação em discursos proferidos por outros, pretensamente
políticos e em cenas ilustrativas daquilo que pode ocorrer em regimes de
tirania: as tramas, as perseguições, as mortes.
Tirano Banderas possui o
poder alcançado pelas armas com o qual manipula as elites e aqueles que lhe
garantem a permanência no mando. Como preconiza a estética do esperpento é um
personagem no qual se exageram rasgos que o aproximam de uma máscara, de um fantoche,
de um animal, de algo inanimado.
Nas primeiras linhas que o
mostram imóvil e taciturno é assinalada a sua semelhança com uma caveira, de óculos negros
e gravata de clérico. Tendo aprendido no Peru a mascar coca, tinha sempre
na comissura dos lábios, uma salivinha verde. E múmia o chama o narrador quando dele se trata e de cruel e vesânico, alheio aos fuzilamentos que em
todos os entardeceres eliminam os revolucionários que lhe perturbam o sossego.
E, acreditando num domínio
infindo é surpreendido pela traição ou pela verdade dos outros. Há os que desejam
justiça social; há os que mudam de campo e há os soldados que atiram para cima
para não provocar baixa no campo inimigo.
Então, Tirano Banderas é
encurralado e morto.
Para assim pagar seus crimes
ou maldades ou apenas para que a História do Continente continuasse a ser feita
pela substituição de um tirano - qualquer que seja o seu matiz - por outro.

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