Em 1849, o jornal O americano, do Rio de Janeiro
publicava, em folhetim, O corsário.
Mal havia terminado a
Revolução Farroupilha e é em fatos a ela relacionados que se situa a trama
desse romance, considerado o primeiro romance histórico brasileiro.
Contrariamente a José Marmol
que no seu romance Amalia faz uma
verdadeira diatribe contra Rosas, ou a Almeida Garrett que, no dizer do
professor Guilhermino Cesar, deixa filtrar nos seus textos uma calorosa simpatia pelos movimentos liberais dos anos 20, Caldre
Fião, também no dizer de Guilhermino Cesar, não louvou, não exaltou feitos,
pessoas do Movimento que foi tido, por ele, como uma fatalidade histórica.
Se guardou um distanciamento
em relação a suas convicções políticas ao escrever seus romances - foi um
obstinado defensor da abolição - como ficcionista Caldre Fião não se eximiu de
fixar esse desacordo que inevitavelmente marca os conflitos humanos e que
oscila sempre entre a busca de bens materiais e a realização de um ideal.E um
dos diálogos do livro é então exemplar.
Encontram-se Bento Gonçalves
e um personagem ficcional, Matias, um velho comerciante, enriquecido no
contrabando e em negócios ilícitos. Bento Gonçalves lhe propõe
realizar uma tarefa determinada, pois assim estaria prestando um serviço relevante ao nosso país. E lhe responde Matias, perguntando: -Mas aqui para nós, quais são os lucros que
daí nos advém?
A contestação é um
entusiasmado falar de ideais de liberdade para um povo oprimido que provoca
resposta muito chã em relação a uma vida passageira, a incerteza sobre o além,
à convicção da necessidade de trabalhar no presente para amealhar o cabedal que
deverá deixar aos filhos.
Se o que diz é considerado
por Bento Gonçalves como um pouco
burlesco, significa, no entanto, a reafirmação do que um pouco antes
pensara, admirado diante do altruismo do capitão José Gomes: Sacrifícios em prol da humanidade, um amor
tão devotado pela terra que o viu nascer eram, para ele, idéias novas,
inteiramente novas. A fraude, o amor ao dinheiro, lhe pareciam até aí, cousas
próprias de um pai de família...
E na busca de riquezas,
Matias atua sem pensar nos meios de que se serve.
Mas, romancista do século
XIX, Caldre Fião não somente sensibiliza o seu leitor com uma história cheia de
amor, sofrimento e lágrimas, como insere nessa história elementos moralizantes
submissos à ética tradicional cristã.
Assim, no seu romance, se os
maus não são castigados pelos seus desafetos, eles não escapam à justiça
divina.
Matias, que buscava a
riqueza a qualquer preço, acaba por tudo perder, reconhecendo os seus erros e
aceitando a vontade de Deus. A felicidade chega para aqueles que trilharam o
caminho do bem.
Evidentemente, Caldre e
Fião, que viveu entre 1821 e 1876, é um autor do século passado...

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