Em epígrafe, palavras de
Simone Weil anulando-se diante da perfeição das coisas. Depois, numerados,
oitenta e cinco poemas de Maria Elisa Carpi.São poemas de alguém que se contempla. Voz que não interroga ou se interroga mas decreta verdades que, sem dúvida, são lapidarmente verdadeiras. Enoveladas em significados que se prendem aos destinos do Homem, mas que estão libertas de rotas já traçadas.
Uma verdade amadurecida pela mulher que, ultrapassando o momento egocêntrico das descobertas, percebe um sentido inusual no encontro com o homem e para o ato de parir. E, madura, pode mensurar e aceitar uma entrega que sabe imperfeita, como sabe, também, que ela é um ser que sempre estará livre, em busca do “mar alto”.
Nesse livro que acaba de
publicar, Vidência e acaso
(Movimento, Porto Alegre, 1992), Maria Elisa Carpi mergulha no mistério que
rege o caminhar dos homens e se encarcera na dialética que o título da obra
define. Como que ignora a reles condição do cotidiano, embora dele não esteja a
salvo.
E no poema cinco há uma
inesperada assunção do mundo dos homens, moldados na rigidez das castas. São
versos do nós, exceção em poemas
feitos de metáforas e de signos, que surge ligada ao que, inegavelmente, reina
num grupo social incapaz de conhecer a própria alienação. As palavras que o
constroem são plenas de uma contundente ironia, expressa, já no primeiro verso:
Ai que seria de nós sem os pobres. Depois, aflorando, a
distorção dos excessos - e as roupas e a comida – a sintetizar o pensamento dessa conhecida velha classe
social para finalizá-lo, na repetição do
primeiro verso: Ave dentro da moita, água
dentro / da pedra, coração dentro dos ossos, / ai que seria de nós sem os
pobres!
Uma insistência que dirime
qualquer dúvida sobre a intenção do poema que, em meio aos demais sempre
voltados para o âmago das coisas, é um lampejo insinuado de outro olhar. Aquele
que traz a farpa de uma crítica e, nela, a certeza de que Maria Elisa Carpi
está atenta a seu tempo e a seu espaço.
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