Ele foi autor de teatro e de
ensaios. Escreveu roteiros de cinema, romances e contos. Porque disseram que
era rebelde e agitador, antes de seus quinze anos, foi para um reformatório,
depois preso em Islas Marias e preso outras tantas vezes. E, com apenas vinte e
nove anos recebia o Prêmio Nacional de Literatura: José Revueltas, nascido no
México em 1914.
Seu primeiro romance, Los muros de agua, fruto de sua experiência
na prisão, foi publicado em 1941. Seguiram-se muitos outros e entre eles dois
livros de contos, Dios en la tierra e
Dormir en tierra.

Dormir en tierra foi publicado em 1960. É formado por oito relatos dos quais o último
dá título ao livro. Conta sobre dois mundos que se entrelaçam: o imóvel mundo
do povoado e o que, vindo das águas, lhe dá parca e efêmera vida. Elo vagaroso
e pesado, o rio Coatzacoalcos. Paralelo a seu curso, as miseráveis ruelas.
Perto do cais, as tavernas e os prostíbulos quietos sob o sol, o calor
paralisando pessoas e animais. Então, só os olhos das prostitutas se estendiam
para o rio, olhando o rebocador que manobrava, a espera da tripulação que
desceria à terra.
Para uma delas, no entanto,
a chegada do barco significava menos o desejo de ganho do que a esperança de
afastar, do povoado e de sua vida, o filho que não podia cuidar.
O drama se instala na beira
do cais e no velho barco. O menino espera, imóvel, que o levem para longe da
miséria e da vergonha; o contra mestre luta para permanecer surdo ao
desesperado apelo do olhar infantil.
Em terra, a pobreza e a
humilhação da prostituta; no barco, o sofrimento e a injustiça de que são
vítimas os tripulantes.
José Revueltas, militante de
esquerda desde muito jovem, como ficcionista, optou por um realismo dialético -
assim ele o define - que, sem o afastar de suas convicções políticas, lhe
permite uma criação que tampouco renuncia a suas buscas estéticas.
Uma ficção, diz o professor
norte-americano Johan S. Brushwood ao escrever sobre a história do romance no
México, que se funda mais na condição do homem do que num protesto político ou
social.
Sem dúvida, no conto “Dormir
en tierra”, é extremamente doloroso esse universo de pobreza em que se detém a
narrativa. No entanto, não embota o drama individual da prostituta que deve
afastar o filho e o drama do contramestre que não deve, por sua vez, permiti-lo
a bordo, embora não fique dúvida que a origem do dilema esteja na defeituosa
estrutura social a que tanto um como outro pertencem como elementos menos
favorecidos.
E, se vivem, profundamente,
o sofrimento é porque assim é a realidade do Continente. Dela é que José
Revueltas alimenta uma ficção que, certamente, não foi escrita dentro de uma campânula de vidro mas é fruto dessa
responsabilidade em relação ao próprio universo que - seja como militante da
esquerda revolucionária, ideólogo do marxismo ou ficcionista - ele acredita
imprescindível para servir a seu povo.
O que não o fará abdicar de
se deter generosamente, apaixonadamente, profundamente, nos meandros e abismos
da alma humana.
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