... ladrões, todos nós o somos[...], todos somos famintos, ao Novo
Mundo viemos para comer, para matar, a despedaçá-lo e nos repartir seus
pedaços...
Juan Nuñez de Prado,
fundador da cidade de Barco, temeroso de que a usurpem os espanhóis de Pedro de
Valdivia que a partir do Chile procuravam expandir o território da conquista,
muda a cidade de lugar, três vezes.
Personagem da História da
América, sua existência seria conhecida apenas dos leitores das Crônicas da
Conquista. É, no entanto, tirado desse quase anonimato ao se tornar personagem
de um livro de ficção. Carlos Droguett em El
hombre que trasladaba las ciudades, conta essa estranha e portentosa
aventura em que o capitão foi conduzido por seus medos nessa desvairada viagem
pelas terras do Continente, carregando uma cidade que ele desejava erguer.
O romance é construído em
quatro capítulos. Nos três primeiros, as mudanças ordenadas por Juan Nuñez de
Prado. No último, o seu encontro com Francisco de Aguirre, enviado pela Coroa
espanhola para prendê-lo e evitar uma nova mudança da cidade.
Chega Francisco de Aguirre
perguntando por que o capitão da empresa havia mandado matar aqueles infelizes desarmados que só tremiam
de medo desta solidão e queriam nada
mais que um cavalinho para cavalgar
para fora dela?. E jura que a cidade não mais será mudada.
Diante dele, preso e
amarrado, Juan Nuñez de Prado indaga de seu destino - serei morto? - e lhe confessa a paixão que o une à cidade que mais
uma vez encerrara nas carretas, prestes a levar para mais longe.
O capitão Francisco de
Aguirre o escuta primeiramente com desconfiança rancorosa; depois irremediável
e profundamente o compreende. De costas para o fundador da cidade, vê, pela
janela, em cujo marco se apóia, as carretas carregadas. Ao sentenciar Juan
Nuñez de Prado - partirás para o Chile para ser julgado - e descer as escadas
da casa para penetrar na noite, já sabe que está tomado da mesma paixão e que
assumirá o destino do homem que viera prender.
Na madrugada o capitão Nuñez
de Prado, atado e entre escolta, deixa a cidade de Barco contida nas carretas
que o capitão recém-chegado, contrariando as ordens reais, decide, por sua vez,
transportar.
Irá cumprir o que lhe
dissera Nuñez de Prado ao se dar conta que lhe havia transmitido a paixão pela
cidade e, então, com a certeza de que será obedecido: Procura um bom acento para a cidade.
Francisco de Aguirre
aprisionara, cumprindo ordens, aquele que era acusado, mas, contaminado de seu
desejo, fazer a cidade enorme e perfeita se dá conta que
estaria pronto a matar espanhóis para conseguir levá-la para mais longe e vê-la
crescer, enriquecer e prosperar.
E sonha, como Juan Nuñez de
Prado sonhava, com a cidade futura que também vislumbra cheia de luxos e carruagens
pelas ruas, habitada por teatros, escolas, bibliotecas e cinqüenta mil almas.
O capítulo inteiro narra a sua arrogante chegada na cidade encarcerada nas carretas e o diálogo em que se confronta com Juan Nuñez de Prado.Sabes que encontro certa misteriosa aparência e ressonância e correspondência e cumplicidade nos teus atos e nos meus, sendo como são tão diferentes? diz-lhe, então, em certo momento.
O capítulo inteiro narra a sua arrogante chegada na cidade encarcerada nas carretas e o diálogo em que se confronta com Juan Nuñez de Prado.Sabes que encontro certa misteriosa aparência e ressonância e correspondência e cumplicidade nos teus atos e nos meus, sendo como são tão diferentes? diz-lhe, então, em certo momento.
E, quando o capitão parte da
cidade, ele que viera para julgá-lo, assume o seu destino. Manda reforçar as sentinelas
ao redor das carretas carregadas, sabe que poderá matar os soldados que não
obedeçam e espiem para ver o que as carretas contém e determina a mudança.
E o ciclo da conquista
continua. Mudara, apenas, o nome do conquistador.

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