dos homens
e enredar-se, às vezes
Em vôos caprichosos
Também passam as palavras
Deixadas em liberdade.
Cores fortes e alegres, um
figurativismo simples. Folhas, flores, um cântaro derramando água. Assim, é a
bela capa de Ídolos antiguos, o
último livro de poemas que Gloria Moseley-Williams acaba de publicar.
Eles se agrupam sob três
rubricas: “Madre greda” (Mãe argila), “Tiempo de río” (Tempo de rio) e “Los
sueños del árbol modificam el aire” (Os sonhos da árvore modificam o ar).
Na primeira rubrica, a poetisa
se identifica com a terra: me ensinaram
que era obra de barro e nos poemas as palavras “terra”,”barro”, “argila”, “areia,” “pó”, “lama” levam a essa presumida
origem do ser moldado na matéria terráquea. Um ser que anseia encontrar raízes
e formas e expressão. Abre-se para a vida - sou
pó irritado, sou argila soante, sou argila enamorada - e busca a sua voz.

Um friso azul, enuncia a
segunda parte, “Tiempo de río” e a identificação do poeta se faz agora com a
água. Gosto de ser rio, diz um verso.
Transparente, plácido, suave, navegando docemente, o rio faz um caminho entre
ribeiras e dunas e planícies. Dá de beber aos pássaros, alberga barcos e folhas
secas.
Voz vegetal se eleva na
terceira parte, para cantar a seiva e o enraizar da árvore, as flores que o
vento embala, as sementes espalhadas pelo ar. Folhas verdes ornam o friso que
acompanha o título desta terceira parte do livro.
Uma busca para o alto, um
enternecimento pelo mundo do outro é o eco presente e repetido nessas três
vozes que se entrelaçam no último poema “arribo” (chegada).
Rio, árvore e argila habitam
esse corpo que não recusa as suas dívidas com a terra, com as raízes, com a
chuva e o sol.
Como um grande desejo de
pertencer, profundamente, ao universo espontâneo, intocado, desses elementos
primeiros é que se constroem os versos de Gloria Mosely-Wiliams.
Uruguaia, que vive atualmente
na Colômbia, fundou em Medellin o primeiro jardim de infância do Ministério de
Educação e a primeira Escola de Danças Clássicas.
Já então, seus poemas eram
publicados em vários países do Continente. E, foram aparecendo seus livros: Semilla de árbol, Donde vive el silencio es una casa..., El espacio habitado, Voz
sobreviviente.
Ídolos antiguos é o último deles. Um verdadeiro canto à vida. Um canto à palavra,
nascendo desse mundo telúrico que é o mundo de Gloria Moseley-Wiliams.
O rio, a árvore, a terra numa
voz de poeta.
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