Guanahaní fue la primera
en esta historia de martirios.
Na América sem nome, chegam
os conquistadores. Chamam-se Arias, Reyes, Rojas, Maldonados, simplesmente
filhos das fomes invernais peninsulares. Ou Cortés, Alvarado, Balboa, Ximénez
de Quesada, Pizarro, Valverde, Valdívia, os que ordenaram a cruel conquista sem
lei em nome do rei e de Deus.
Los carniceros desolaram las islas, assim Neruda lhes anuncia a chegada. E essa
História e os malefícios por ela instaurados são contados nos vinte e cinco
poemas que compõem o terceiro canto do Canto
general.
Em barcos vieram os homens
para realizar, gloriosamente talvez, a conquista da América, diz a História
quase sempre calando o ultraje a que foi submetida a natureza americana, a que
foram submetidos os homens que eram seus donos.
E os conquistadores - os
famintos ou os velhacos - atropelam jasmins, estraçalham a terra que é sacudida, ferida, incendiada; niños carniceros,
se atrevem às destruições de tudo o que nela encontram. Arrasam choças e
religiões e livros sagrados. E os homens que os presenteiam e lhes prestam
homenagens de ouro e flores são amarrados, golpeados, feridos, despedaçados,
mordidos pelos cães, queimados nas fogueiras. Ou, sobrevivem como escravos.
É pelas mãos dos verdugos e
ladrões - Pizarro, o maioral porcino; Almagro, antigo e torto; Cortés, raio
frio, coração morto; Valdivia, coração traidor, chacal podre - que o
mapa do Novo Mundo se completa, desde a península do México até o extremo sul
do Continente.
Em Cholula, os melhores
filhos do Reino, atraiçoados, se esvaem em sangue, feridos por armas
assassinas; em Yucatán, por ordem de um bispo, em fumaça se transformam os
livros contendo a acumulada sabedoria milenar; no Peru arrancam, cobiçosos, os
metais nobres e condenam à morte o Inca; no Chile cortam a cabeça dos sete
caciques que acreditaram numa embaixada de paz; na Colômbia, degolam o príncipe
e o deixam insepulto, os olhos tornados para o céu.
Histórias mergulhadas nessa
dor da América que é lembrada por poucos, negada por muitos e, assim, reduzida
ao silêncio. Silêncio da morte ou da servidão às quais foram condenados os
Antigos donos do Continente: o que lavrou a terra, o que ergueu muralhas, o que
domou, o que teceu, o que trabalhou o barro ou o ouro. Jazem todos sepultados
no abismo dos tempos e é a eles que invoca o poeta:
Mostrai-me o vosso sangue e vosso sulco,
dizei-me: aqui fui castigado,
porque a jóia não brilhou ou a terra
não entregou a tempo a pedra e o grão:
assinalai-me a pedra em que caíste
e a madeira em que os crucificaram,
acendei-me as velhas pederneiras,
as velhas lâmpadas, os látegos grudados
através dos séculos nas chagas
e os machados de brilho ensangüentado
Eu venho falar por vossa boca.
Então, nascem esses poemas
alimentados de verbos tristes e de sombrias expressões onde se aninha o épico
de uma luta heróica e grandiosa que no Continente é destituída de glória e
eternamente perdida.
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