Tierra mía sin nombre, sin América.
Em 1950 era publicado no
México Canto general de Pablo
Neruda, em duas edições, uma do Comité Auspiciador e a outra de Ediciones
Oceano, ambas ilustradas por David Alfaro Siqueiros e Diego Rivera. Além das
três edições clandestinas que apareceram no seu país, nesse mesmo ano é
publicado, novamente, no México em edição popular e na França, Estados Unidos,
China, Polônia, União Soviética, Suécia, Romênia, Índia, e Síria.
Um longo e imenso poema,
dividido em quinze partes. Cada uma delas, por sua vez, é composta por vários
outros cujo aspecto formal e cujo tema - o desenho da América pré-colombiana, a
galeria de conquistadores, de libertadores, de ditadores, de anônimos
perseguidos, de poetas comprometidos com o destino dos povos - podem adquirir,
por vezes, verdadeira autonomia em relação ao todo. São trezentos e cinqüenta e
dois poemas agrupados sob quinze rubricas que, se justapondo, constroem uma
história da América na qual o épico e o lírico se amalgamam para reconstituir
essa trajetória de lutas e traições que marcaram cada um de todos os dias da
América e dela fizeram um espaço de desencontros.
Parte do Continente, Pablo
Neruda assume nos poemas que formam a décima quinta parte da obra um eu que
traduz a expressão da América desde as suas primeiras vozes, anteriores à peruca
e à casaca até a realidade dos dias que antecederam esse 5 de fevereiro de
1949 em que ele dá por encerrado o seu Canto
general, alguns meses antes de
completar os seus 45 anos.
O início de sua História,
ele fixa em 1400, nos primeiros poemas “Amor América” da rubrica “La lámpara en
la tierra” que abre o Canto general.
Então, a América sem nome, ainda, se deixava viver sob o vento e sob a chuva.
Um território inconquistado que o poeta se propõe reviver no verbo: Yo estoy aqui para contar la História. E
a inicia com seis poemas, esboços dessa terra sem nome e sem donos:
“Vegetaciones”, “Algunas bestias”, “Vienen los pájaros”, “Los rios acuden”,
“Minerales”, “Los hombres”. Em cada um deles, em cada poema, a forma, a luz, a
cor e o perfume estão a serviço das riquíssimas imagens nerudianas para compor
essa visão de paraíso diante da qual os homens brancos, que chegariam depois,
permaneceriam - quase todos - cegos. Até porque a busca por eles empreendida
não era a busca da beleza.
E o jacarandá levantava espuma / feita de resplendores transmarinhos e a lhama
abria cândidos / olhos na delicadeza / do mundo cheio de rocio e do beija flor as minúsculas fogueiras /
ardiam no ar imóvel.
E, assim como os bosques se
elevam para ser o útero verde da
América e o rio Amazonas, o pai patriarca,
desliza a eternidade secreta das
fecundações , o homem que pertence a esse universo é feito de pedras e de atmosfera, limpo como os cântaros, sonoro. Um
homem que planta e constrói, sabe curar e escrever sobre as pedras. Multidões de povos / teciam a fibra,
guardavam / o futuro das colheitas / trançavam o fulgor da pluma / convenciam a
turquesa / e nas trepadeiras téxteis / expressavam a luz do mundo.
São homens sem futuro porque
do mar chegarão os outros. Neruda diz chegam
procurando as ilhas. Corria o ano de 1493.
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