Mario
Arregui morreu em 1985, no mesmo ano em que saía no Brasil o seu livro Cidade
silenciosa pela Movimento de Porto Alegre. Foi o segundo livro do contista
uruguaio traduzido para o português. O primeiro, Cavalos do amanhecer,
fora publicado pela Francisco Alves do Rio de Janeiro três anos antes e teve
tradução para o tcheco, russo e
italiano. Mario Arregui é autor de seis livros de contos sobre os
quais diz Angel Rama, com a sua admirável argúcia crítica, : são narrativas que
se dedicam a conhecer o homem e seus limites Assim em “Los contrabandistas”,
“Diego Alonzo”, “Unos versos que no dijo”. E
em “Trés hombres”, perfeito exemplo
dessa busca e um de seus contos mais belos.
“Trés
hombres” foi publicado em 1960, juntamente com outros três contos, no livro Hombres
y caballos. Como seu título indica, nele se movem três homens: um
comissário de polícia, responsável por uma vasta zona rural, o sargento, seu
subordinado e Velasco, o bandido a quem devem prender.
Nas
andanças em busca de Velasco, surge o momento em que seus perseguidores o vêm
embrenhar-se no mato. Decididamente, atrás dele vai o sargento Maciel que, ao
se embrenhar entre as ramagens também desaparece. Somente na manhã seguinte é
que sairá do mato, anunciando ter prendido o bandido após uma luta em que ele
recebera ferimentos e o outro perdera a liberdade. Avançaram, então, o sargento
através do mato para levar o bandido para a prisão. Amarrado estava ele e, assim, não
representava perigo algum. Atado pelos pés e pelas mãos, achava-se à mercê dos
outros e assim, como algo desprezível o tratou o comissário. Para o sargento,
porém, Velasco era um prisioneiro, um homem valente, pois com valentia havia
lutado.
Entre
aquele que armado batia no indefeso e aquele que amarrado e no chão não podia
responder aos golpes, o sargento decidiu. Como o sargento Cruz nas páginas do Martin
Fierro, escolheu o seu destino, identificando-se com o perseguido e
reconhecendo nele as virtudes tradicionais do homem do campo: a hombridade e a
valentia. E a ética natural o levou a se rebelar contra o superior, opondo-se
aos maus tratos infligidos ao prisioneiro
e logo, libertando-o para que
pudesse se defender como homem dos ataques do outro que, então, deveria,
por sua vez, atacar ou defender-se como homem.
A
injustiça e a covardia que presenciou lhe guiaram a escolha. Mais do que os
galões, a Maciel pesaram as razões baseadas em leis anteriores que se apoiavam
na coragem e na lealdade e que não tinham, ainda, sido contaminadas por
discutíveis interesses.
“Era
uma vez três homens...” é como se inicia o conto de Mario Arregui. Certamente,
um tempo em que existiam homens para quem
o justo – e nada mais - era o limite.
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