Percorrendo
a pé, as cinqüenta léguas que constituem
a Industrial Paraguaya de Kaaguasú, para chegar à sede, os contratados que
desfaleceram no meio do caminho, foram acabados a tiro. Para Casiano Jará
(Augusto Roa Bastos, Hijo de Hombre,
Buenos Aires, Losada, 1960), incapaz de recuar diante da tragédia que vivia
naquela caminhada e que presumia maior quando chegassem aos ervais é o reinício
do medo que será, uma vez mais, cotidiano e permanente.Já vivera na fome e na
opressão. Já fora rebelde e fugitivo, desesperado e faminto. Mas, logo no
início da tentativa de trabalho compreendera que não era para a vida que fora contratado pela Industrial Paraguaya, pois entrar naqueles
domínios era se condenar a sair unicamente para debaixo da terra. Fugir,
impossível ou só pelo ar como as canções. Além das águas do rio, das
Vinchesters dos capatazes, dos cães, a própria lei promulgada pelo Presidente
Rivarola o impedia: O trabalhador que
abandone o seu trabalho sem o consentimento de seu patrão ou capataz do
estabelecimento será levado preso de volta se assim o patrão o solicitar,
ficando por conta do trabalhador os gastos que por ventura existirem.
A angústia da vida
no erval é o isolamento do ser humano que a miséria e a dor afastam dos demais.
Casiano Jará não a sentia, ainda, completamente, pois sempre havia o momento de encontrar os olhos - ainda que sofridos – de sua companheira.
Quando, porém, o comissário propõe comprar-lhe a mulher, Casiano como que perde
sua condição de homem . A tragédia se torna, além de moral uma enfermidade física. A boca de Casiano espuma
de ódio impotente. Seu corpo transpira e treme como se estivesse febril, sua
mente perde a possibilidade de raciocínio lógico e não tem, não pode ter outro
pensamento senão o de sair do erval com a mulher e o filho que está para
nascer. Fala da fuga em todos os escassos momentos em que se encontra com a mulher.
Planeja-a cuidadosamente. Porém, quando consegue sair do erval e está a poucas
léguas do povoado o nascimento da criança o impede de continuar. Levado de
volta ao erval, agora três vítimas. Casiano vai para o tronco mas os quinze
dias que nele permanece não o dobram. Novamente reinicia a fuga. Cheia de medo,
desespero, ruídos, miasmas, lodo, desfalecimento, fome, sede, cansaço. Por fim
chega ao rio e ao cruzá-lo, à liberdade.
A
imagem de uma carreta surgida de repente, no meio do sono, junto a de um ancião
cujos traços são de seus antepassados, o reconduz e a
mulher e o filho ao povoado de origem. Ao avistá-lo, caminha com segurança. Não
para a sua casa ou para o seu pedaço de terra mas para o vagão semi-destruído
que jazia entre as árvores queimadas. Casiano Jará perdera a razão.

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