Victor
W. Von Hagen publica, em 1953, no México, Las cuatro estaciones de Manuela,
uma biografia, fruto de longas buscas em arquivos de vários países e que
segundo o autor, apenas menciona o que foi, minuciosamente
investigado. Assim, a certidão de batismo, com data de 29 de dezembro de
1797 onde consta que Manuela nascida dois dias antes, é uma criatura espúria, cujos pais
não são nomeados. Na verdade, era filha de um nobre espanhol e de uma
equatoriana, herdando de um o desejo de autoridade e de glória e do outro, o
carinho pela terra onde nasceu. Revelou-se, desde muito cedo, uma
transgressora. Aos quinze anos, vestia roupa de homem, fumava e domava cavalos.
Aos dezesseis, a encerraram num convento de onde fugiu no ano seguinte. Aos
vinte anos, a casaram com um respeitável e rico médico inglês o que a tornou
respeitável e admirada e, sobretudo, envolvida por uma aura de inveja. Quando
Simon Bolívar, em 1822, entra em Quito, cavalgando à frente de seu exército, é
recebido com flores, jogadas, entre música e fogos de artifício, das sacadas,
pelas mulheres, entre as quais, pela beleza, sobressaía Manuela Sáenz. Simon
Bolívar, diz Eduardo Galeano, levanta a
cabeça e lhe crava os olhos, lenta lança. À noite, num baile que celebrava
a vitória na batalha de Pichincha contra os espanhóis, acontece, entre eles, o
encontro. Dançam sem temer o escândalo e se unem para uma longa história de
paixão. Ela o acompanha, luta por ele e o defende. Seja sufocando um motim na
praça de Quito, seja organizando oficinas para a confecção de uniformes do novo
exército, seja convertendo suas escravas em espiãs, membros dos quadros de informantes secretos de
Bolívar. Notícias, dados e dizeres, queixas, murmurações coletivas lhe eram relatados para que, informada tanto
dos mexericos como de planos e projetos de conspirações políticas, pudesse
transmitir a Simon Bolívar o que, eventualmente, lhe pudesse ser útil.
Foi-lhe
conferida a Orden del Sol, atribuíram-lhe funções no Estado Maior de Bolívar,
outorgou-se a si mesma o grau de Coronela e passou à História como”Libertadora
do Libertador”. Mas os fados se lhe mostraram funestos. Após a morte de Simon
Bolívar, lhe foi negada a permissão para entrar no seu país; a pensão vitalícia
que lhe foi concedida pelo Congresso do Peru como possuidora de Orden del Sol,
nunca lhe chegou às mãos, negada pelas autoridades de Lima. Em Paita, um
povoado triste do norte do Peru, viveu pobre, um pouco do comércio de velas,
outro pouco do comércio de réstias de alho no mercado ou vendendo, para os
marinheiros, pequenas figuras de animais feitas de doce. Ao morrer, atacada
pela enfermidade que dizimou boa parte da população da pequena cidade, foi
enterrada – diz Marta de Paris, no capítulo que lhe dedica no seu livro Amantes,
Cautivas e Guerreras – como todas as
vítimas numa fossa comum ao pé dos faróis cinzentos do porto de Paita.
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