William Henry Hudson nasceu
na Argentina e escolheu a Inglaterra para morar. Foi em Londres que escreveu e
onde, em 1885, conseguiu publicar La
tierra purpurea com o curioso título The
purple land that England lost. Travels and adventures in the Banda Oriental.
South America. Antes de ser traduzido em 1928 para o espanhol e publicado
em Madrid, teve uma edição francesa e várias edições nos Estados Unidos.
Novamente traduzido para o espanhol foi publicado em Buenos Aires e Caracas e,
em 1992, pelas Ediciones de la Banda Oriental sob a rubrica do Instituto
Nacional del Libro de Montevideu.
Para Martínez Estrada,
crítico argentino, citado por Ruben Cotelo que prefacia essa última edição de La tierra purpurea, o livro é uma argumentação em prol de formas
primitivas e quase selvagens contra uma civilização que acredita ter elucidado
todos os problemas pelo simples fato de haver vencido, sem consciência do mal
que, por sua vez, ocasionava à natureza.
O autor do relato é Richard
Lamb, jovem inglês que, para se casar com a mulher amada deve tirá-la da casa
de seus pais, em Buenos Aires, e fugir para Montevidéu.
Era para os uruguaios, o
desastroso ano de 1860 em que o país se degladiava em sangrentas lutas
internas. Richard Lamb busca trabalho numa cidade que vive à espera de novas
lutas. Na esperança de encontrar meios de sobreviver, com uma carta de
apresentação ao capataz de uma distante propriedade rural, ele atravessa o país
a cavalo.
São os sucessos dessa viagem
que ele, então, narra, descrevendo fazendas, tipos humanos e paisagens. Um
universo primitivo.
As plantas aí crescem sem
cultivo e o estudioso naturalista que era William Henry Hudson irrompe no
relato do seu personagem, entusiasmado diante da exuberância de um pomar cheio
de pessegueiros, cerejeiras, ameixeiras cujo terreno era tomado pelas mais
variadas flores: a alta malva rosa, as alegres amapolas, o
inesquecível cravo, luzindo-se tão brilhante
e aveludado como sempre.
Casas toscas, rudes,
desprovidas de tudo, abrigando a família, os empregados e os visitantes quase
sempre na cozinha. Nelas, vivendo os mais diversos tipos que se tornam
idênticos, porém, nessa obediência à lei sagrada que impera nesse país sem
leis: a da hospitalidade.E, recebido pela gente do país, Richard Lamb muitas
vezes com ela se identifica, desejando ter nascido entre eles, ser um deles em lugar de um inglês cansado e vagabundo que carrega o peso das
armas e das armaduras da civilização, cambaleando como Atlas, levando sobre os
ombros o peso de um reino sobre o qual o sol nunca se põe.
E, ainda quando relata a
crueza das lutas entre as diversas facções que assolavam o país com seus ideais
ou com suas ambições ou quando menciona um gesto menos leal, suas palavras
continuam construindo uma imagem elogiosa. O que não impede que, possa
se constituir, também, um documento sobre a História que fez o país e sobre
esse cotidiano igualmente tão importante e sempre tão ignorado.Um documento que
descreve, interpreta ou inventa com inegável riqueza de expressão romântica mas
que não se descuida, no entanto, de permanecer fiel à realidade na qual se
inspira.
Nas suas entrelinhas, cabe o
Continente.

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