Em 1980, o Prêmio do Livro
Infantil da Espanha foi outorgado à obra A
pedra arde.
A partir de uma idéia de
Arkadi Gaidar, é o primeiro escrito de Eduardo Galeano dirigido às crianças. Na
Espanha foi publicado pela editora Lóquez de Salamanca e no Brasil, pelas
edições Loyola de São Paulo.
A pedra arde é uma breve história que envolve dois personagens: o menino Carassuja
e o velho.
Ao tentar roubar maçãs e
escorregar muro abaixo, Carassuja encontra-se com o velho, guarda do pomar. Não
recebeu dele reprimendas mas cuidados nos arranhões que se fizera ao cair.
Outra arte - a de se perder
no bosque - o leva a encontrar a pedra do rejuvenescimento. Carassuja quis
tornar o velho feliz e lhe oferece o achado pois quem quebrasse a pedra em
pedacinhos voltaria à juventude.
Para sua indignada tristeza,
porém, o velho não aceitou ficar jovem outra vez embora andasse curvado e fosse
manco; embora tivesse no rosto uma cicatriz e dentes quebrados e o nariz torto.
Mas, não se recusou a romper
o silêncio de tantos anos para explicar a Carassuja o porquê de não querer
mudar: Estes dentes não cairam sozinhos.
Foram arrancados à força. Esta cicatriz que marca meu rosto não vem de um
acidente. Os pulmões... a perna... Quebrei a perna quando escapei da prisão ao
saltar um muro alto. [...] Se quebro a pedra, estas marcas somem. E elas são
meus documentos, compreendes? Meus documentos de identidade. Olho-me no espelho
e digo: “Esse sou eu” e não sinto pena de mim. Lutei muito tempo. A luta pela
liberdade é uma luta que nunca acaba. Ainda agora, há outras pessoas, lá longe,
lutando como eu lutei. Mas minha terra e minha gente ainda não são livres e eu
não quero esquecer. Se quebro a pedra cometo uma traição, compreendes?
E, assim, se entrelaçaram o
mundo da fábula - o menino que se perde no bosque, a solução encontrada para
reencontrar o caminho que, para Carassuja foi rasgar a roupa e deixar pedaços
pendurados nas árvores, o achado de uma pedra com poderes excepcionais - e o
real, terrível mundo das torturas e prisões e mortes políticas que era, então,
o mundo de muitos países latino-americanos.
E, contrariando o desfecho
da fábula, em que o mágico tudo soluciona e torna feliz aquele que recebeu seus
benefícios, esse rejuvenescer sempre tão procurado pelos humanos, ao longo do
tempo, foi desprezado em nome de princípios: não negar a marca da vida por
cruel que ela tenha sido; não esquecer o destino dos seus que ainda continuam lutando
pelos seus ideais.
O final feliz da história se
apresenta com o que, aparentemente há de mais simples: o menino e o velho
caminhando pelo bosque de mãos dadas. E é a mão do velho que aquece a mão do
menino e são suas palavras as que lhe transmitem uma visão de mundo dominada
pela coerência diante de si mesmo e pela solidariedade.
Reafirmações de crenças e de
esperanças num texto cujas ilustrações do espanhol Luis de Horna criam, por sua
vez, um encantador mundo feérico feito de belas plantas estilizadas, de flores,
de animais risonhos e tranqüilos.
Harmonia perfeita.
Desejadamente instigadora ao se construir também, ou, sobretudo da História do Continente que
negada e escondida durante tantos anos, hoje, começa a ser finalmente contada.

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