Pero sigo siendo el rey é um romance que, junto com
as narrativas, fábulas, contos, testemunho, forma o conjunto da obra de David
Sánchez Juliao, um dos pioneiros na América Latina dos textos escritos
especialmente para serem gravados em discos e cassetes.
Colombiano,
nascido em 1945, sociólogo, jornalista, professor, roteirista de cinema e
televisão, o interesse pela música popular o levou a realizar pesquisas no
México onde, entre Guadalajara e Cuernavaca e a capital de seu país, escreveu
um romance sui generis.
Com
o sub-título de “Sinfonia para leitor e mariaches, opus 1”, Pero sigo siendo
el rey se apresenta sob o signo da
música. O prólogo é uma partitura de José Alfredo Jimenez e de um de seus
versos se origina o título do romance que é dividido não em capítulos mas em
Movimentos que indicam a cadência e o caráter de uma peça musical: “Allegro
contabili”, “Allegretto scherzando”, “Tempo di Minuetto” e “Allegro vivace”.
Alegre,
gracioso, melancólico ou mais lento ou lúdico ou, ainda, lento e por fim
alegre: cadências que anunciam uma narrativa construída em quadros cujo fio condutor são as mortes
que, repetidamente, advém, já anunciadas por antigas profecias e que a presença
de pombas vermelhas no povoado de Tezontle concretiza.
Não
sucessivamente, mas mesclando-se nos quatro Movimentos, se aproximam, se afastam, se entrelaçam destinos marcados
por grandes paixões amorosas que são interlúdios para a morte. Morte que
obedecem sempre a um sentido de honra no qual se incrusta somente a verdade
masculina. Uma verdade que é dona da vida e dos sentimentos da mulher.
A
autoridade paterna ajudada pela autoridade religiosa ( Deus fez a mulher assim, inferior, para que o homem fosse o rei), decide a vida sentimental de Flor de
Azálea e de Chabela. O sentido de posse masculino proíbe a mulher de sair à
rua, ir à festas, expressar o seu pensamento. Não podia permitir que
Chabela se desfizesse da camisa de força que sempre tinham usado as mulheres de
Tezontle. Nessa mulher mando eu. As tranças de Chabela são rédeas para meu cavalo.
Um sentido que lhe permite perder a mulher no jogo, usá-la até que fique
uma flor sem atrativos pois para isso e
só para isso existe; matá-la para que não desonre o amigo ou
apenas por suspeita de infidelidade.
Ninharias que o código social determina. Uma lei de
honra inflexível ( a morte deve ser vingada por outra morte), os usos e
costumes consagrados (há homens que à alma e ao bolso convém mais do que os
outros), o servir-se da autoridade para obter amores ( Anselma entendeu que com alguém que era ao mesmo tempo homem e
autoridade de nada adiantava a linguagem da razão).
Código
que irá determinar o silêncio dos amantes que somente nos monólogos solitários
se expressam plenamente pois os diálogos, quando existem ,são cheios de medos,
de reticências. Não expresso, o amor se esgueira, se esconde e quando,
luminoso, quer desabrochar, a morte o impede de florescer.
E, em
meio ao insólito das pombas vermelhas, do espelho que não reflete a imagem ou a reflete diante de outros rostos, do
morto que volta para completar a vingança, das filhas mortas que falam com as
mães (reminiscências, talvez de Gabriel García Márquez e de Rulfo), usando, por
vezes,palavras do cancioneiro popular mexicano, os personagens masculinos,
sofrem terrivelmente, ( como somente soem sofrer os personagens femininos), mas
continuam sendo, sempre, o rei.

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