Um
dos dramas do Continente é essa impossibilidade de se liberar do atrelamento
científico, cultural e ideológico dos países do Primeiro Mundo que aqui se
instalou, juntamente, com a chegada dos
ibéricos. Uma real incapacidade de serem instituídas fontes de saber ou de
criação que não estejam enraizadas nas produções dos grandes centros.
Situação
que se não for hipocritamente negada levará a refletir, entre outras
coisas, sobre o significado desse
atrelamento e, então, surgirá, sem dúvida, uma busca para dele se desvencilhar.
Caminhos
do romance brasileiro de João Hernesto Weber (Mercado Aberto, 1990), ao
apontar direções inovadoras sobre um assunto que, salvo as raras exceções,
reproduz conceitos sempre baseados nas mesmas linhas de historiografia e de crítica que servem ao estudo da
Literatura de outras latitudes, surge
como uma obra de extremo interesse.
Embora
possa ser – certamente o será para muitos – uma obra polêmica, nas palavras de
José Hildebrando Dacanal, ela se constitui o
mais importante e coerente ensaio até hoje escrito sobre a ficção brasileira do
século XIX a nossos dias.
O
sub-título do livro, “De A Moreninha a Os Guaianãs”,
indica-lhe cronologicamente, os limites. Sete capítulos traçam a trajetória do
romance brasileiro compreendido entre essas duas obras. Introduzindo as análises de
A Moreninha, Senhora, Iracema, Inocência, Memórias de um
sargento de milícias, A mão e a luva, Memórias póstumas de Brás
Cubas, Dom Casmurro, O cortiço, Triste fim de Policarpo
Quaresma, Memórias Sentimentais de João Miramar, São
Bernardo, A pedra do reino, Os Guaianãs , a síntese do momento
econômico - ideológico em que foram produzidas.
De
confessada “intenção didática”, a sutileza das observações sobre as obras que
formam o corpus do trabalho e o abandono dos caminhos consagrados pela
Historiografia brasileira fazem desse livro uma referência imprescindível para
os especialistas da área e uma sugestiva
leitura para os que desejam pensar o país contido nas obras de ficção.
Mas é,
especialmente, quando João Hernesto Weber assinala essa constante busca por
parte dos romancistas brasileiros dos padrões estéticos alienígenas que suas
palavras adquirem um maior alcance. Elas não falam somente de obras de ficção,
mas, sobretudo, de um dilema de importação cultural. Isto é, elas falam da
História do país.

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