domingo, 9 de dezembro de 1990

História para pensar

             Um dos dramas do Continente é essa impossibilidade de se liberar do atrelamento científico, cultural e ideológico dos países do Primeiro Mundo que aqui se instalou,  juntamente, com a chegada dos ibéricos. Uma real incapacidade de serem instituídas fontes de saber ou de criação que não estejam enraizadas nas produções dos grandes centros.

            Situação que se não for hipocritamente negada levará a refletir, entre outras coisas,  sobre o significado desse atrelamento e, então, surgirá, sem dúvida, uma busca para dele se desvencilhar.


            Caminhos do romance brasileiro de João Hernesto Weber (Mercado Aberto, 1990), ao apontar direções inovadoras sobre um assunto que, salvo as raras exceções, reproduz conceitos sempre baseados nas mesmas linhas de historiografia  e de crítica que servem ao estudo da Literatura  de outras latitudes, surge como uma obra de extremo interesse.

            Embora possa ser – certamente o será para muitos – uma obra polêmica, nas palavras de José Hildebrando Dacanal, ela se constitui o mais importante e coerente ensaio até hoje escrito sobre a ficção brasileira do século XIX a nossos dias.

            O sub-título do livro, “De A Moreninha a Os Guaianãs”, indica-lhe cronologicamente, os limites. Sete capítulos traçam a trajetória do romance brasileiro compreendido entre essas duas obras. Introduzindo as análises  de A Moreninha, Senhora, Iracema, Inocência, Memórias de um sargento de milícias, A mão e a luva, Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, O cortiço, Triste fim de Policarpo Quaresma, Memórias Sentimentais de João Miramar, São Bernardo, A pedra do reino, Os Guaianãs , a síntese do momento econômico - ideológico em que foram produzidas.

            De confessada “intenção didática”, a sutileza das observações sobre as obras que formam o corpus do trabalho e o abandono dos caminhos consagrados pela Historiografia brasileira fazem desse livro uma referência imprescindível para os especialistas da área e uma sugestiva  leitura para os que desejam pensar o país contido nas obras de ficção.

            Mas é, especialmente, quando João Hernesto Weber assinala essa constante busca por parte dos romancistas brasileiros dos padrões estéticos alienígenas que suas palavras adquirem um maior alcance. Elas não falam somente de obras de ficção, mas, sobretudo, de um dilema de importação cultural. Isto é, elas falam da História do país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário