Nas
telas, um filme de Josph Losey, “Cerimônia secreta”. Seu argumento teve origem
num romance latino-americano cujo autor, Marco Denevi, um argentino que, já em
1955, havia escrito Rosaura a las diez,
considerado por Fernando Alegria como o melhor romance policial escrito em
língua espanhola. Nos anos seguintes publicou Um pequeño café, Hierba del
cielo, Falsificaciones e, em
1960, primeiro lugar entre três mil, cento e quarenta obras, num concurso
realizado pela Liem espanhol, Cerimônia secreta.
Um
mundo feminino. São cinco personagens que mais ou menos intensamente se
inserem, por acaso, na vida de Leonides Arrufat: Natividad Gozález a quem ela,
em silêncio, intimava a sair do bairro
usando como mensagem um ramo de urtiga que todos os dias colocava sob a soleira
da indesejável; Mercedes e Encarnación, interlocutoras de um diálogo do qual acabaram
por ser vítimas; Cecilia que, encontrando em Leonides semelhanças com a mãe
morta a adotou como tal durante o
período que lhe durou a amnésia; e Belena, chamada pelo nome apenas para se
tornar a personagem principal da cerimônia secreta.
Leonides
Arrufat desfila cotidianamente por um pequeno mundo e suas desventuras. A partir de um incrível encontro, seus passos seguem
outros passos e ela se transforma ou, simplesmente, passa a ser ela mesma. O desvario em que, levada por sua tremenda
solidão, ela está mergulhada, se ampliará, entrelaçado ao de Cecília, vítima
não somente da solidão, mas de uma agressividade injusta que a conduz à criação
de uma vida ilusória. As situações que elas vivem juntas e os diálogos ( se é
que assim podem ser chamados) que entre elas se estabelecem só adquirem, então,
coerência, inscritos nessa incoerência que a vida lhes oferece.
Desses
desvarios e incoerências, dessas vidas
destruídas pela vida, Marco Denevi, sem se afastar de modelos, elaborou um
magistral retrato do ser humano. Um retrato que vai sendo construído numa
narrativa surpreendente. Demasiado lúdica para ser inocente.

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