Carlos
Fuentes foi o galardoado de 1988 com o Prêmio Cervantes, recebido do rei da
Espanha, em cerimônia realizada no dia 21 d abril, no Palácio do Oriente, em
Madrid. Autor de vários romances, alguns traduzidos para o português e
publicados no Brasil, escreveu, em 1970, uma peça de teatro, Todos los gatos son pardos que no mesmo
ano foi publicada pela Siglo Veintiuno do México. Antecedendo o texto, um prólogo do autor, explicando
as razões que o levaram a escrevê-la: as palavras que lhe disse Arthur Miller sobre a História da Conquista do
México ( o encontro dramático de
Montezuma, um homem que tudo possuiu com outro, Cortez que nada tinha) e o ter se deparado com uma expressão de
Jacques Lacan (o inconsciente e o
discurso do outro ) e, as suas próprias interrogações que exigiram
uma reposta que fez, então polifônica.
Todos los gatos son pardos é um texto
belíssimo de extraordinário potencial dramático que ensejaria ( até hoje não
foi levado ao palco) uma extraordinária montagem: magníficas possibilidades de
cenário e de guarda roupa, grande número de participantes e importante envergadura dos personagens. E, principalmente,
pelo tema conduzido por uma ação onde se intercalam momentos de ritmo lento com
outros de grande agitação e dramaticidade.
Um
lugar qualquer às margens do mar do México, um acampamento espanhol, um templo
indígenas, o palácio de Montezuma são os
diferentes espaços onde se passa a ação.
O esplendor das plumas nas vestes dos indígenas e dos metais nas couraças dos
conquistadores, as frutas e as carnes, o grande animal estranho trazido pelo
caçador completam o efeito plástico cuja exuberância é, as vezes, quebrada pela
nudez dos personagens.
Os
personagens são muitos: Montezuma, os sacerdotes, os deuses, os magos, o jovem
sacrificado, o pastor, o caçador, o
mercador; Cortez e seus capitães, algum soldados, Frei Olmedo e Malinche. Ora
eles são rodeados por muitos figurantes ( guerreiros, albinos, corcundas,
anões, donzela), ora na solidão ou, diante do outro, enfrentam seus fantasmas
em monólogos ou diálogos, verdadeiras
sínteses dos sentimentos que nortearam a conquista e a entrega do Continente.
E
as vozes coletivas e os ruídos que acompanham a ação – choros, alaridos,
arfares eróticos, sons de tambores e de choque de metais, relinchos de cavalos
e zumbidos de gafanhotos – são, por si só, testemunho de como se fez essa
conquista.
Entremeando
um discurso que procura entender ou procura explicar, a ação violenta,
agressivamente expressiva: guerreiros que obedecem a Montezuma e apunhalam
homens desarmados; soldados cristãos que destroem imagens indígenas e cortam as
mãos dos emissários do rei inca.
Se
essa ação coloca em dúvida o uso de poder da elite indígena ou espanhola (daí o
título da peça), na expressão do indivíduo – Malinche, Cortez, Montezuma, Frei
Olmedo – ela enuncia uma História que sendo a dos submetidos é parte de toda a
História do Continente.

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