O
corpo da amada é como se lírio fosse, diz Enrique Loynaz. E Pablo Neruda diz:
“doce jacinto azul, pequena rosa”. Evocada, muda e pálida, em meio a uma noite
de som e de perfumes como no “Nocturno”de José Asunción Silva. Mulher
imaginária impregnando tudo –as paredes, o ar, os gerânios – com uma presença irreal
e tão plena que provoca o medo do
encontro. Assim conta Lopes Vallencillos no seu poema “as vezes tenho medo de
te encontrar na rua”. Também é sofrer da ausência irremediável como Amado Nervo
ao longo dos anos que se seguiram à morte da amada. Ainda, como um demiurgo,
dar vida à mulher como faz o poeta salvadorenho Roque Dalton: No dia em que morras te enterrarei nua, como quando nasceste de novo entre
minhas pernas.
Mas,
falar da amada em versos significa também falar de si mesmo. De angústias e solidão,
de desejos inefáveis. Voltar-se para si mesmo e aspirar encontrar-se ou
encontrar no outro, na amada, as respostas da vida: amar é somente/ saldar contas /
com o que e está mais longe,
escreve, temeroso, Teobaldo Noriega.

E,
nesses sentires todos, aqui e ali, no Continente, surge o olhar para além do
próprio sentir. Mario Benedetti explica: uma
nova linguagem mediante novas maneiras de assumir não somente o amor mas também
uma realidade que inclui o amor.
E, então, Roberto Fernández Retamar,
nascido em Cuba, em 1930. Seu poema “Con las mismas manos” se inicia com um
verso em que o elemento erótico-afetivo
se entrelaça à uma ação voltada para o dever do homem: Com as mesmas mãos que te acaricio estou construindo uma escola. Nos demais versos, imagens de homens do
Continente que esperam um futuro. Diante deles, o poeta para registrar: cheguei quase ao amanhecer, com o que pensei seriam roupas de trabalho. Os outros, em
farrapos, já o esperavam. Não dormem mais sob as pontes ou sob as soleiras. Estão
construindo uma escola e não sabem ler.
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