Por
intuição e desconfiança, Aluízio Palmar não aceitou o convite feito, em Buenos
Aires, para retornar ao Brasil e fazer parte do grupo de militantes da esquerda
armada que pretendia continuar a luta contra o governo militar. Mais tarde,
viria a saber que se tratara de uma cilada, cujo intuito era atrair os
brasileiros que viviam no exílio para áreas fictícias de guerrilha e matá-los,
porque, segundo os governantes do país, representavam um perigo para as
instituições; e que o autor da proposta, um “cachorro”, militante cooptado pela
repressão (consta no livro de Élio Gáspari, A ditadura escancarada
que um “cachorro” recebia, por mês, o equivalente ao soldo de capitão) fizera
seis adeptos e, entre eles, Onofre Pinto, um dos fundadores e dirigente da
Vanguarda Popular Revolucionária. Teriam saído no dia 11 de julho de 1974, de
Buenos Aires e entrado no Brasil por Santo Antonio do Sudeste, chegando ao sítio
que, pretensamente, seria uma base camponesa de organização revolucionária,
após uma viagem de mais de vinte e quatro horas. No anoitecer do dia seguinte,
cinco deles saíram juntamente com os considerados companheiros – um deles era o
“cachorro”, o outro, membro do Centro de Inteligência do Exército – para a
primeira ação revolucionária. Não concretizada pois, conduzidos pela Estrada do
Colono, após rodar uns seis quilômetros, o veículo parou. Desceram todos e mal
caminharam alguns passos, foram atingidos pelas balas que partiam de entre as
árvores e, sem vida, jogados na vala já preparada para recebê-los. Onofre Pinto
foi morto no dia seguinte e seu corpo atirado no Rio São Francisco Falso que,
seis anos depois, desapareceria com a inundação para formar o Lago de Itaipu.
A
reconstituição desses fatos foi feita por Aluízio Palmar. Não compareceu ao
encontro, em Buenos Aires, conforme combinara com o militante que o abordara e
partiu, no mesmo dia, para Posadas onde residia. Já havia cortado todos os laços
com Onofre Pinto, não mais acreditava na luta armada e, tampouco, teve
confiança nessa estrutura que lhe era oferecida na região de Santo Antonio do
Sudeste. Ao saber que Onofre Pinto e mais seis companheiros haviam desaparecido
quis saber as circunstâncias em que ocorreram as mortes e o lugar onde haviam
sido sepultados e, em 1979, ao voltar ao Brasil, inicia a busca – um percurso
longo e trabalhoso – que relata em Onde vocês esconderam nossos mortos,
publicado, neste ano, pela Travessa dos Editores de Curitiba.
Muito
do tempo que despendeu nessa busca resultou em vão: suposições errôneas sobre a
morte do grupo e o lugar onde teriam sido enterrados e não menores os
obstáculos advindos de assassinatos de pessoas que, eventualmente, poderiam dar
informações, indicando o objetivo de eliminar pistas, os documentos
desaparecidos por incúria ou destruídos para apagar evidências, as informações
truncas ou desencontradas, o silêncio das pessoas que, talvez, pudessem ajudar
a esclarecer e que, no entanto, arredias
e desconfiadas se calavam.
Um
verdadeiro labirinto marcado pela ignomínia dos que infiltrados nos grupos
militantes os entregavam para a tortura e para a morte. E dos que eram os
executantes cegos do extermínio realizado sob o império do arbítrio. Razões
que, certamente, mantiveram a tenacidade de Aluízio Palmar em não desistir
quando os fios que o conduziam por esse labirinto se rompiam ou se exauriam.
Assim, ele chegou ao que pretendia saber: como
morreram e onde foram enterrados os últimos
guerrilheiros que ousaram pegar em armas contra a ditadura militar. Porém,
nesse trabalho que empreendeu, também se deparou com informações e com fatos,
tanto no que se refere aos auxílios prestados ao sistema repressivo usado pelos
governantes, como no que se refere às violências sofridas pelos trabalhadores
de fazendas que poderão se constituir matéria de sérios trabalhos de pesquisa
para que nem o esquecimento persista e nem a memória seja negada.
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