domingo, 20 de março de 2005

A pérola do Guaíba: a chegada


...porque Porto Alegre realmente merece seu nome com razão e é um lugar tão encantador e ensolarado como não se pode desejar outro no mundo. Friedrich Gerstächer.
 

            Há mais de dez anos, Valter Antonio Noal Filho se dedica à pesquisa das impressões do Rio Grande do Sul, deixadas por viajantes. Em 1997, publicou, pela Editora da Universidade Federal de Santa Maria e em parceria com José Newton Cardoso .Marchiori, Santa Maria: relatos e impressões de viagem. Agora, em 2004, pela Anaterra, também de Santa Maria, editou Os viajantes olham Porto Alegre, em dois volumes: um que abarca o período de 1754 a 1890 e o outro, aquele de l890 a 1941, um trabalho realizado em co-autoria com Sérgio da Costa Franco, autor de Porto Alegre e seu comércio, Porto Alegre sitiada, entre outros.

            O primeiro volume traz o testemunho de sessenta e dois viajantes. Desde a referência em Memória, do Sargento-mór Luiz Manoel de Azevedo Carneiro e Cunha, provavelmente, a primeira, em 1753, quando Porto Alegre ainda era conhecida como Porto de Viamão até as impressões de Carl Rode que datam de 1889.

            Provenientes da Áustria, Bélgica, Dinamarca, Estados Unidos, França, Inglaterra, Irlanda, Itália, Polônia, Prússia, Rússia, pelo número, sobretudo, se destacam os que vieram de Portugal e da Alemanha. São, principalmente, funcionários da Coroa, militares, soldados mercenários, escritores, estudiosos, comerciantes, exilados políticos, imigrantes, padres, viajantes. Geralmente, se detêm sobre a privilegiada localização da cidade: o alegre porto está agradavelmente situado na boca do Jacuí, talvez se encontrem poucas cidades no Brasil tão belas e bem colocadas, Essa cidade é magnificamente situada e domina a baía em que desembocam cinco rios, situa-se sobre uma elevação e proporciona aos olhos uma surpreendente e encantadora visão.... Não poucas vezes, mencionam, inclusive, latitude e longitude e a visão que dela têm, ao chegar, quase sempre, de barco. Uma chegada que acontece lentamente, proporcionando a descoberta gradativa da cidade que se mostra graciosa, pitoresca e de seus arredores.

            Vindos da cidade de Rio Grande, numa navegação pela Lagoa dos Patos, os viajantes falam da planície das margens que, ao se aproximarem de Porto Alegre, vão se mostrando onduladas e, depois, montanhosas e com abundante vegetação. Impressionam-se com a pequena ilha rochosa de Pedras Brancas e com a ponta de Itapuã que forma uma garganta estreita cuja entrada está assinalada por um farol e de onde se inicia o gracioso panorama do largo rio de suas margens. À direita, se enfileiram montes de curvas suaves, em parte cobertos de mato, em parte com várzeas cultivadas, pastagens e quintas, formando, nas águas, encantadoras enseadas, e na terra, graciosos vales; na margem esquerda, para quem vem do sul, estendem-se, a muito maior distância, magníficas vargens e praias cobertas de mato, e diante delas, pequenas ilhas de aspecto verdadeiramente idílico. Descrição parecida será feita por outro viajante que, assim sintetiza o que lhe é dado ver: uma paisagem como não se poderia imaginar mais linda e amena, um idílio litorâneo sem igual. E, minuciosa, aquela que será considerada uma das melhores descrições dessa chegada a Porto Alegre, a de autoria de um jovem alemão de quinze anos que veio ao Brasil conhecer os seus tios e avós, desembarcando em Porto Alegre no dia 18 de fevereiro de 1878. Ele observa as figueiras selvagens, os cáctus com flores, as palmeiras, as magníficas matas, as pastagens e o rio imenso no qual a navegação durou várias horas até que foram avistadas ao longe, casas claras batidas pelo sol, sobre uma colina saliente na água; eram as casas de Porto Alegre[...]

Salvo uma ou outra opinião menos favorável a respeito da aparência da cidade, ou de seus costumes, o que perpassa nesses textos é admiração e entusiasmo que serão sintetizados no epíteto que lhe foi dado: pérola do Guaíba. Aparece num texto, publicado em 1862 e o estar entre aspas, talvez, indique não ter sido cunhado pelo autor do artigo que apenas o estaria retomando de outrem ou de um emprego usual ou conhecido. Certamente em acorde com as inúmeras referências elogiosas a sua paisagem, a seus dias ensolarados, à abundancia dos frutos de sua terra.

 

 

           

 

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