Estudou
teologia em Nova Iorque e voltou ao Brasil com o título de Mestre. Denunciado
como subversivo, em 1968, para fugir das ameaças que lhe eram feitas, retornou
aos Estados Unidos onde continuou a estudar, doutorando-se com a tese “A
Theology of Human Hope”. Novamente no
Brasil, é nomeado professor da Unicamp. Autor de mais de cinqüenta livros em
que se expressa como filósofo, poeta, teólogo, pedagogo é considerado um
intelectual dos mais respeitados no Brasil. Neste ano de 2004, publica, pela
Verus Editora de Campinas, Ao professor, com o meu carinho. São
oito crônicas, algumas das quais já anteriormente publicadas, reunidas num
pequeno livro de treze por dezoito centímetros e sessenta e duas páginas, sob
um tema sabidamente inesgotável e de inúmeras vertentes: a educação.
Rubem
Alves, ao longo de seus anos como professor, percorreu um caminho, dizem, com
olhos de ver e de sonhar. E, perseguindo o desejo de um sistema educacional
mais acertado e mais justo, não pôde fugir às constatações dessas
incongruências que o cerceiam.
Na crônica –
assim definem o seu texto os editores – “Sobre os perigos da leitura”, relata o
episódio ocorrido numa prova de seleção ao doutoramento realizada na Unicamp.
Como é de praxe, uma imensa lista de livros cuja leitura era exigida. A
banca, sob orientação de Rubem Alves, seu presidente, aceita não se ater às
possíveis memorizações – muitos idiotas tem boa memória – e sim, pedir,
apenas: Fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar. Algo deveras
inusitado e que gerou não somente assombro entre os candidatos, mas, verdadeiro
pânico, pois, não haviam sido treinados, desde a infância, para papaguear os
pensamentos dos outros. E a reação de uma candidata que só conseguiu repetir
compulsivamente a teoria de um autor marxista, o faz concluir que O excesso
de leitura a havia feito esquecer e desaprender a arte de pensar e que esse
processo de destruição do pensamento individual é uma conseqüência natural das
nossas práticas educativas. Sobre as quais, embora tão facilmente passíveis de
crítica, Rubem Alves não se detém e lembra dois autores alemães – Schopenhauer
e Nietzsche, cujos textos transcreve – que já haviam constatado os perigos da
leitura.
Na verdade,
ainda que sejam sumamente respeitáveis os autores citados e suas idéias, quando
se trata de Brasil, é preciso ter cautela ao falar em perigo da leitura.
Porque não apenas se trata de um país que possui vergonhosa taxa de
analfabetos, como também, um imenso número daqueles que tidos por alfabetizados
não entende o que lê, tornando inexistente, então, o perigo de uma leitura que,
ao invés de ser proveitosa, obnubila inteligências. Tanto quanto a sua falta,
pois o que soe acontecer no país é que, entre os verdadeiramente alfabetizados,
a maioria não cultiva o hábito da leitura, seja a de livros, seja a de jornais.
Ou, somente compra livros – o que nem sempre é garantia de leitura – que figuram
nas listas dos mais vendidos, num submisso atrelar-se ao gosto de outrem ou às
opiniões, por vezes aleatórias ou inspiradas nos que acontece nos pólos
considerados irradiadores de cultura, que, certamente, norteiam também as
bibliografias universitárias.



