No
mês de julho de 1937 se realizou, em Madrid, o II Congresso Internacional de
Escritores Antifascistas que fez da
Espanha republicana a capital intelectual do mundo. Um Congresso sem atas e
as intervenções, então ocorridas, ficaram dispersas em um sem número de
publicações. Em 1979, dois professores, o espanhol Manuel Aznar Soler e o
argentino Luiz Mario Schneider reuniram o material que lhes foi possível
localizar e o publicaram pela Editorial Laia de Barcelona. São pronunciamentos
e testemunhos assinados por escritores, oriundos de muitos países, entre os
quais André Malraux, Tristan Tzara, Ilya Ehrenburg, Louis Aragon, Bertolt Brecht,
Heinrich Mann, Anna Seghers e os latino-americanos Pablo Neruda, Nicolas
Guillén, César Vallejo. Suas palavras são pronunciadas sob o impacto da emoção
que dominou cada um dos que ocorreram a Madrid para se opor à ameaça do
fascismo e que presenciou, de muito perto, o espetáculo de uma guerra
fratricida. E se houve aqueles que nos seus discursos se prenderam a princípios
e os que pregaram a ação houve, também, os que expressaram os seus próprios
dramas e os daqueles que representavam, em testemunhos que fazem ver que o
mundo, desde então, pouco mudou.
É
o caso de Langston Hughes. Nascido em 1902, aos vinte e quatro anos publica seu
primeiro livro de poemas, The weary
blues. Mas foi a medalha de ouro do Prêmio Harmon, recebida pelo seu
romance Not without laughter, que o fez decidir ser escritor. Embora
lhe tenha sido negada por Washington a permissão de ir à Espanha, como
representante da imprensa negra, ele, como negro e pobre, se atribuiu o direito
de representar os negros e os pobres e, não somente de seu país, como dos
demais, igualmente, oprimidos. Assim, ao se apresentar, diz ter vindo de um país chamado América, país democrático e
rico para se expressar, especialmente, em nome dos negros e dos pobres como
ele. Oprimidos pela cor da pele e pela pobreza a que estão condenados, há
muito, ele diz, já conhecem o significado da palavra fascismo na prática de uma
descriminação que se mostra, no seu país, em todas as nuanças e cuja síntese
está na proibição de entrarem, os negros, em escolas, teatros, concertos,
hotéis e restaurantes.
Ainda
era a década de trinta e Langston Hughes, em meio dessa assistência de
escritores, levanta a voz para dizer que os negros da América estão cansados de um mundo no qual um grupo de pessoas pode
dizer a outro: Vocês não têm direito à felicidade, nem à liberdade, nem à
alegria de viver. Nesse mundo em
que os negros são explorados e silenciados é crime se opor à opressão e Nicolás
Guillén, Jacques Roumain, Angelo Herndon são disso a prova. E a tragédia da
Espanha – mulheres e crianças assassinadas, bombardeios sobre a população civil
– mostra o quanto são capazes os opressores para instituir e conservar o poder.
Mas,
tampouco é estranho a Langston Hughes que o racismo é explorado pelos fascistas
para aterrorizar as massas trabalhadoras e impedir a sua união e, desprezando
fronteiras, tanto serve a uns como a outros: nos Estados Unidos, é dito aos
brancos que os negros são bestas ruins e perigosas; na Alemanha, os judeus são
caluniados e na Itália, desprezados os etíopes. Daí a sua tese de que ao não
existir o racismo, deixará de existir o capitalismo e, igualmente,
desaparecerão as guerras e os fabricantes de armas.
Uma
tese que, ao se inscrever na sua sofrida experiência como cidadão, sem
direitos, dos Estados Unidos – sem dúvida fruto de um inegável despotismo – e
que, ao não considerar outras variáveis, se mostra como sonho de esperançosa
ingenuidade. Certamente, também por isso, irrealizável.

Nenhum comentário:
Postar um comentário