Sob
a rubrica do Repertorio Latinoamericano, revista publicada em Buenos
Aires, com o objetivo de integrar pela
cultura, veio à luz em janeiro deste ano, Memorias sobre Bolivia.
Seu autor, Francisco Ricardo Bello, diplomata de carreira, reúne neste livro,
lembranças de sua vivência como Secretário e como Conselheiro da embaixada
Argentina em La Paz, na década de quarenta. E a essas lembranças acrescenta
informações sobre o país e sua história, frutos de suas leituras como leitor
infatigável que é.
O
primeiro capítulo, “Pais de los
contrastes”, trata da paisagem boliviana, as
vezes inóspita e hostil e outras
risonha e cálida e dos homens que a habitam. A eles e a sua maneira de
ser é
dedicado o segundo capítulo que empreende uma tarefa nada simples pois a
Bolívia é constituída de três zonas
geográficas, perfeitamente delimitadas
onde vivem homens que pertencem a três culturas diferentes e falam o seu
próprio idioma. Além disso, como em todos os paises do Continente, os
autóctones – quéchuas e aimarás- sofreram a presença do colonizador o que
certamente, não é um ônus menor e nem facilita os relacionamentos. Embora
Francisco Ricardo Bello considere que, face ao que teve que enfrentar, sejam as
diferenças de cultura, sejam as forças telúricas, o problema não é do índio,
mas do branco que deve vencer o meio e a possibilidade de se adaptar moral,
espiritual e mentalmente à idiossingrasia americana que o índio representa.
Páginas antes, havia se referido à antiga educação dos Incas cuja ética
comportamental poderia honrar qualquer povo que a endossasse e que se
instituía, logo, uma presença na saudação matutina que, em vez de desejar um
bom dia, aconselhava: Não sejas ladrão,
não sejas mentiroso, não sejas covarde.
No
entanto, haja visto como foi sendo feita a História da Bolívia, um suceder de lutas e traições a serviço de
interesses duvidosos, é evidente que o branco soube muito bem se resguardar do
nefasto que lhe seria se submeter a uma ética contraria aos desígnios que alimentava. Desígnios que a se
conhecer o ocorrido no Continente nestes anos todos, podem ter dado ensejo a momentos dramáticos,
injustos, imperdoáveis e, eventualmente, jocosos como o que aparece no sétimo
capítulo de Memórias sobre Bolívia onde é relatado um dos feitos de
Melgarejo. Ele sufocava revoluções e com o prestígio conseguido entre a tropa (era considerado um valente), um dia fez a sua própria revolução, assumindo o
poder que exerceu, pela força, durante seis anos. Era admirador de Napoleão III
e se considerava seu amigo. Ao saber da guerra franco-prussiana, num arrebato passional , diante da tropa formada, e do alto de seu cavalo
exortou: Soldados! A integridade da
França está ameaçada pela Prússia. Quem ameaça a França, ameaça a civilização e
a liberdade. Vou proteger os franceses que são nossos amigos e de quem gosto
tanto. Vocês vem comigo atravessar a nado o oceano mas cuidado,
não deixem molhar as munições. Dito isto, deu ordem de marcha. Mas, naquele
momento, caiu uma chuva torrencial e, dir-se-ia, providencial pois refrescou-lhe a cabeça,
deixando-a apta para aceitar as razões de seus ministros sobre uma tão atrevida
e intrépida campanha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário