O
capítulo se inicia com Miguel Ardiles dizendo a Juan Núñez de Prado que
soldados do Chile iriam vir para prendê-lo. Várias noites haviam passado desde
que chegara e a esse diálogo entre os dois, seguem-se vários monólogos de
um ou do outro, diálogos de Juan Núñez
de Prado com os capelães e muitas lembranças que lhe acodem. Recursos que
ajudam a tecer, em meandros, uma narrativa que se recusa a obedecer a ordem
cronológica dos fatos. Assim, é somente sessenta páginas adiante que irá se
inscrever o episódio da chegada de Miguel Ardiles à cidade de Barco. Juan Núñez
de Prado vê quando se aproxima com os
seus soldados . Caminhavam se arrastando. Um dos cavalos estava manco e mal
podia se mover e do soldado que se prendia a seu pescoço se soltavam trapos
sanguinolentos. Na padiola, um ferido
com a cabeça cheia de sangue. Estavam todos envoltos no cheiro nauseabundo que exalavam.
Também vê os grandes olhos de Miguel Ardiles olhando do alto de seu cavalo, um
belo cavalo negro que se havia transformado num animal sem cor, devorado pelos tremores e a febre .Ele desmonta
com lentidão, se dá conta de que as
muralhas e as casas estavam sendo derrubadas. Porém, sua mão não treme ao
perguntar, mostrando, com um gesto, as carretas e os índios carregados: Aí levas tudo, Senhor? Juan Núñez de
Prado gritou, tenso e cruel: Tudo, tudo,
a cidade inteira, o que pudemos juntar e recolher dela. Ainda assim, o
recém chegado suplica pelos seus
soldados cansados e famintos e pelos feridos graves mas a irredutível resposta é de que estão partindo
com a cidade às costas para fugir à morte que os está rondando. Sua aquiescência, porém, não apenas em aceitar o inadiável da mudança da cidade, mas a se
mostrar disposto a executá-la - Certamente
que o faremos, Senhor, se o fizeste
duas vezes, podes fazê-lo três e trezentas, sabes que viemos na expedição para
fabricar cidades para a coroa[...] -
se antepõe no relato, a esta sua
dramática chegada com os soldados no
lugar onde deveria existir uma cidade que, no entanto, está sendo transportada alhures.
Contrariamente, em meio à enumeração
de objetos que se espalham pelo chão, em meio à impressões e sentimentos e a
perfis apenas esboçados curtas frases oferecem uma informação cujo sentido se
enovela à sequências anteriores. Por exemplo, cortará a corda com a espada
ou o punhal que aparece na página 326, leva à via
balançarem as cordas das forcas da
página 325 que irá esclarecer qual é a corda que será cortada. E mais adiante, outra
sequência da mesma página, contemplava
estupefato o padre Cedrón, de pé, no alto da cadeira, tratando de alcançar uma corda que o vento tempestuoso
lhe arrebatava informa quem pretende
alcançar a corda e quem irá cortá-la..
Assim, episódios que se completam
muitas páginas adiante, sequências que somente se tornarão claras se enoveladas
às que aparecem em páginas anteriores, pontilham um relato que vai se fazendo gradualmente e em
idas e vindas, partes desse itinerário
de Juan Núñez de Prado em que ele se
defronta com as outras vontades. Neste terceiro capítulo ele não se
demove de seguir mudando a cidade e nega ao capitão Ardiles as horas de
descanso que ele pede, permanecendo impassível diante do sangue dos que são massacrados e diante do afã do capelão em cavar a terra para enterrar os
mortos e diante dos tiros dos soldados e das espadas nuas dos capitães. A seu
redor, a cruel e trágica história de um
punhado de homens em terras do Continente.Também, as terríveis verdades da
condição humana.
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