Na
verdade, abstraindo, nos dias atuais, as submissões à mídia que, em pouco tempo
e quase sempre sem razão, faz de um livro um estrondoso sucesso, é sempre um
mistério pleno de nuanças a receptividade a uma obra literária e os critérios que
a podem tornar conhecida, respeitada, admirada ou fazer com que seja relegada
ao olvido.
Assim,
o ter Lauro Palhano ficado esquecido poderá ser explicado muito simplesmente. Por
exemplo, ter vindo à luz em meio a indiferença de uma elite pernóstica, sempre
voltada para o Hemisfério Norte e, pretensiosamente, alheia às classes populares,
como se elas não lhe dissessem respeito e que, portanto, não deseja encontrar
nas suas leituras; ou a própria condição do escritor, indigno de respeito devido ao trabalho que exercia e a sua cor.
No
capítulo em que estuda o romance social no Brasil, José Ramos Tinhorão, no seu
livro A música popular no romance brasileiro, vol.II: século XX (1ª parte), faz uma análise não somente de O gororoba, mas,também de Marupiara, uma saga da exploração da Amazônia e de Paracoera,
romance do Rio São Francisco e da gente
ribeirinha. Uma análise que, embora presa ao tema primeiro de seu trabalho,
se amplia em observações, oportunas valorizações dessas obras que, salvo melhor
juízo, não têm porque merecer uma
indiferença, certamente, calcada em (más) idéias feitas.
Quando
José Ramos Tinhorão nota que, numa página de O
gororoba, a saborosa descrição do
clima pré-carnavalesco de Belém do início do século XX, já não aparecem as
referências cheias de preconceitos ao modo de ser e de se expressar do povo, como
tampouco aparecem figuras elaboradas a partir de concepções elitistas a mostrar
a distância entre o escritor e as classes mais humildes, ele, com certeza, permite,
mais uma vez, constatar – o que não deixa de ser conhecido – o quanto dessa
característica da ficção brasileira poucos romancistas estão isentos. Também,
leva a perceber o evidente posicionamento crítico de muitos que se ocupam da Literatura
Brasileira ao optarem por ignorar autores – e é o caso de Lauro Palhano – cujos
temas, no seu entender, possam se revelar parcos de interesse para um leitor
que despreza o homem do povo. Até porque, ele pode se constituir um espelho no
qual esse mesmo leitor não admite se ver refletido.
O
estudo de José Ramos Tinhorão, além das informações sobre a música popular na
ficção brasileira, contém importantes motivos para induzir ao conhecimento de
autores jamais estudados, em aproximações já libertas de parâmetros ultrapassados
e que permitam uma visão mais abrangente do que é essa Literatura nacional que,
a não ser pelas sempre raras exceções, é delineada por uma História Literária
tradicional, por uma crítica sem profundidade e por uma Cátedra universitária
repetitiva. Mas, dificilmente, e é de praxe, são abandonados os caminhos percorridos. Até
porque, os perigos de enfrentar riscos
são bem menores.

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