sábado, 17 de março de 2001

Dos cães e dos gatos


            E diz Ricardo Azevedo: Este livro pretende descrever o jeito de ser, os usos e costumes, os sonhos, qualidades, defeitos, prazeres e manias de 24 entre as mais famosas e admiradas espécies caninas existentes no mundo em que vivemos. E A outra enciclopédia canina (São Paulo, Companhia das Letrinhas, 1997), catalogada como literatura infanto-juvenil, é feito de breves textos, dedicados a vinte e três raças de cães e ao vira-lata que ilustrações, pequenas belezas plenas de sensibilidade, acompanham. Algumas palavras descrevem nas particularidades que lhes são próprias, os cães de cada raça: Altos, magros e compenetrados [...] de olhar frio e impenetrável os Afghans; forçudos, musculosos, os Boxers; altos, magros e robustos, os Dinamarqueses; altos e sempre de nariz empinados, os Collies. Mas, é, principalmente, sobre o temperamento dessas espécies que abanam o rabo e levam as pulgas para passear que Ricardo Azevedo discorre. E com um prazer de quem sabe o que diz, pois sempre gostou – explica-se – de ficar observando cachorros. O jeito dos cachorros. Então, é com sapiência que lhes define as sutilezas de temperamento: simpáticos, generosos e civilizados, são, no seu entender, os Terra-nova; corajosos e pacatos, os São Bernardo; simpáticos, agradáveis e gentis, os Dálmatas. E com muita graça, essa maneira de ser que os distingue uns dos outros. Daí, nada mais diferente dos Beagles que não conseguem ficar quietos – Entram em casa pela janela, sobem nas mesas, derrubam vãos e bibelôs, pulam de surpresa no colo das pessoas, correm atrás do próprio rabo, atacam furiosos as roupas estendidas nos varias, roubam comida, roem sapatos e engolem barbantes – do que os Pastores alemães: disciplinados, rígidos, amantes da ordem, das regras, das leis e que adoram ser amestrados.


            Porém, e não poucas vezes, nesse descrever a maneira de ser de um cão, se desenha, e muito claro, o jeito dos humanos. No que lhe é dado a observar, para Ricardo Azevedo há os cães que transbordam de alegria de viver e os que passam a vida doentios e os que tem prazer em ajudar os outros e os que estão, quase sempre, de mau humor. E, há o cão de raça muito antiga a se acreditar de sangue azul e que por isso, não deve ficar por aí se misturando com qualquer um mas que, igual a todos os outros, também faz xixi no poste, só que discretamente quando ninguém está olhando. E o cão vaidoso. Uma espécie que late e corre a trás do próprio rabo, vive fazendo dietas e jamais come massas nem açúcar para, é claro, não perder a linha. E, os que sabem tudo e tudo explicam com citações de frases famosas e provérbios e palavreado difícil e sentem pena dos que não conseguem decifrar seus sábios latidos.

            No entanto, estas antropomórficas definições, que não resultam do lugar comum – o cão é a imagem de seu dono –, mas de concluir que talvez a espécie canina tenha muito mais coisas em comum com a espécie humana do que se imagina, na verdade, acabam desprestigiando a graciosa espécie que late. Porque o que deveras acontece é que os homens, como é do conhecimento de todos, nunca deixaram de ser lobo para os homens. E, porque, sobretudo, nestes briosos e bicudos tempos que correm, parece que estão a se dedicar, especialmente, a serem gatos.
 
 

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