domingo, 25 de março de 2001

As Marias e o cometa

            Assim como a mansa demência, a doce obsessão de Maria Rosa, personagem de Hijo de Hombre (Buenos Aires, Losada, 1960), igualmente a loucura de Maria Aquina, personagem de Luz do abismo ( Recife, Bagaço, 1996) se relaciona com o Cometa Halley. Em 1910, quando de  sua penúltima passagem, consta que a imensa cauda chegou a atingir trinta milhões de quilômetros.

Para os habitantes do povoado paraguaio esse interminável rastro de fogo era o anúncio resplandecente do fim do mundo. Foi nesse tempo de medo e de seca que encontraram Gaspar Mora morto, perto do leito sem água do riacho. Maria Rosa, o havia procurado, em vão, e nessa busca se perdera no mato, a tristeza lhe extraviando a alma, na certeza de que ele fora levado pelo Cometa e que o Cometa o iria trazer de volta.

            No romance de Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque, a loucura de Maria Aquina começou a se mostrar ao aparecer, no céu, o Cometa. Assim o diz Dona, a narradora, que antes de contar sobre a prima, se detém a descrevê-lo: Quando ele se mostrava completamente, cobria o céu como o rabo de um pavão encantado. Sua cabeça erguia-se ao norte do horizonte, indecisa e pesada. Nela não se via maior beleza. Mas, pouco a pouco, à medida que ia escurecendo, ele começava a acender a cauda até o meio do céu, derramando-se em luminosidade e cor. Abria seu leque esplêndido e fantasmagórico. O poente ficava completamente irisado com sua presença, destacando fortemente os crepúsculos que se formavam. Quando as duas luzes se encontravam – a do sol, retirando-se grave e decadente, e a do cometa que se acendia renovado e brincalhão – assistia-se a um fugaz momento de beleza quase sobrenatural. Um véu de noiva foi o que nessa beleza viu Maria Aquina. Porém, ao escutar a  frase que se quer espirituosa, dita pela sua prima, Casamento e mortalha no céu se talha, nela se deixa envolver para vislumbrar o futuro que irá enovelar no Cometa: - Pois assim será no dia de minha morte. Despida. Nua. Apenas envolta no seu véu. Eternamente noiva do cometa. Viajando com ele por seu infinito. Incompleta e libertada. Meu véu de noiva! Minha mortalha! Perseguindo esse desejo – corria nua em busca do horizonte – viu-se privada de viver. Pela família, cheia de vergonha, foi trancafiada num quarto e, para impedir que batesse na porta, a cobriram de pregos pontudos. Depois, lhe acorrentaram os pés. Morta, vestiram-na com reles seda rala, pobre mortalha roxa indigna de quem desejara ser enterrada envolta no rastro de um cometa.

            Subjugada, Maria Rosa, à pobreza e à solidão, ela vive, somente, na espera insana dessa volta impossível do homem que ama; prisioneira, Maria Aquina, dos preconceitos de uma família que se quer de elite, pretende outra vida e não aquela que lhe traçaram. Reais ou inventadas por escritas tão díspares – no espaço, no tempo, nas intenções – que as fizeram personagens de ficção, elas se assemelham ao buscar refúgio na grandiosa luz do Cometa. E nesse incomensurável desamparo a conduzi-las à louca esperança de ser feliz.

domingo, 18 de março de 2001

Os ignorados

            Ele é um dos que foi apenas mencionado nas obras que tratam da Literatura Brasileira. Mas, nem sempre. Lauro Palhano, pseudônimo de Juvêncio Lopes da Silva Campos, surge na Literatura com o romance O gororoba: cenas da vida proletária no Brasil, publicado em 1931 que, no dizer de José Ramos Tinhorão, é um dos livros que antecipa o romance social. No prefácio do seu romance, o autor afirma sua vocação de escritor-trabalhador que, até então, só manejara martelos o quê lhe permitiria mostrar aos marechais da Fortuna, aos que governam, que legislam, que defendem as leis, o que é ser partícula dessa grande massa, em constante fluxo e refluxo para um lar de incertezas e de apreensões.

            Na verdade, abstraindo, nos dias atuais, as submissões à mídia que, em pouco tempo e quase sempre sem razão, faz de um livro um estrondoso sucesso, é sempre um mistério pleno de nuanças a receptividade a uma obra literária e os critérios que a podem tornar conhecida, respeitada, admirada ou fazer com que seja relegada ao olvido.

            Assim, o ter Lauro Palhano ficado esquecido poderá ser explicado muito simplesmente. Por exemplo, ter vindo à luz em meio a indiferença de uma elite pernóstica, sempre voltada para o Hemisfério Norte e, pretensiosamente, alheia às classes populares, como se elas não lhe dissessem respeito e que, portanto, não deseja encontrar nas suas leituras; ou a própria condição do escritor, indigno de respeito devido ao trabalho que exercia e a sua cor. 

            No capítulo em que estuda o romance social no Brasil, José Ramos Tinhorão, no seu livro A música popular no romance brasileiro, vol.II: século XX (1ª  parte), faz uma análise não somente de O gororoba, mas,também de Marupiara, uma saga da exploração da Amazônia e  de Paracoera, romance do Rio São Francisco e da gente ribeirinha. Uma análise que, embora presa ao tema primeiro de seu trabalho, se amplia em observações, oportunas valorizações dessas obras que, salvo melhor juízo,  não têm porque merecer uma indiferença, certamente, calcada em (más)  idéias feitas.

            Quando José Ramos Tinhorão nota que, numa  página de O gororoba, a saborosa descrição do clima pré-carnavalesco de Belém do início do século XX, já não aparecem as referências cheias de preconceitos ao modo de ser e de se expressar do povo, como tampouco aparecem figuras elaboradas a partir de concepções elitistas a mostrar a distância entre o escritor e as classes mais humildes, ele, com certeza, permite, mais uma vez, constatar – o que não deixa de ser conhecido – o quanto dessa característica da ficção brasileira poucos romancistas estão isentos. Também, leva a perceber o evidente posicionamento crítico de muitos que se ocupam da Literatura Brasileira ao optarem por ignorar autores – e é o caso de Lauro Palhano – cujos temas, no seu entender, possam se revelar parcos de interesse para um leitor que despreza o homem do povo. Até porque, ele pode se constituir um espelho no qual esse mesmo leitor não admite se ver refletido.

            O estudo de José Ramos Tinhorão, além das informações sobre a música popular na ficção brasileira, contém importantes motivos para induzir ao conhecimento de autores jamais estudados, em aproximações já libertas de parâmetros ultrapassados e que permitam uma visão mais abrangente do que é essa Literatura nacional que, a não ser pelas sempre raras exceções, é delineada por uma História Literária tradicional, por uma crítica sem profundidade e por uma Cátedra universitária repetitiva. Mas, dificilmente, e é de praxe,  são abandonados os caminhos percorridos. Até porque, os  perigos de enfrentar riscos são bem menores.

sábado, 17 de março de 2001

Dos cães e dos gatos


            E diz Ricardo Azevedo: Este livro pretende descrever o jeito de ser, os usos e costumes, os sonhos, qualidades, defeitos, prazeres e manias de 24 entre as mais famosas e admiradas espécies caninas existentes no mundo em que vivemos. E A outra enciclopédia canina (São Paulo, Companhia das Letrinhas, 1997), catalogada como literatura infanto-juvenil, é feito de breves textos, dedicados a vinte e três raças de cães e ao vira-lata que ilustrações, pequenas belezas plenas de sensibilidade, acompanham. Algumas palavras descrevem nas particularidades que lhes são próprias, os cães de cada raça: Altos, magros e compenetrados [...] de olhar frio e impenetrável os Afghans; forçudos, musculosos, os Boxers; altos, magros e robustos, os Dinamarqueses; altos e sempre de nariz empinados, os Collies. Mas, é, principalmente, sobre o temperamento dessas espécies que abanam o rabo e levam as pulgas para passear que Ricardo Azevedo discorre. E com um prazer de quem sabe o que diz, pois sempre gostou – explica-se – de ficar observando cachorros. O jeito dos cachorros. Então, é com sapiência que lhes define as sutilezas de temperamento: simpáticos, generosos e civilizados, são, no seu entender, os Terra-nova; corajosos e pacatos, os São Bernardo; simpáticos, agradáveis e gentis, os Dálmatas. E com muita graça, essa maneira de ser que os distingue uns dos outros. Daí, nada mais diferente dos Beagles que não conseguem ficar quietos – Entram em casa pela janela, sobem nas mesas, derrubam vãos e bibelôs, pulam de surpresa no colo das pessoas, correm atrás do próprio rabo, atacam furiosos as roupas estendidas nos varias, roubam comida, roem sapatos e engolem barbantes – do que os Pastores alemães: disciplinados, rígidos, amantes da ordem, das regras, das leis e que adoram ser amestrados.


            Porém, e não poucas vezes, nesse descrever a maneira de ser de um cão, se desenha, e muito claro, o jeito dos humanos. No que lhe é dado a observar, para Ricardo Azevedo há os cães que transbordam de alegria de viver e os que passam a vida doentios e os que tem prazer em ajudar os outros e os que estão, quase sempre, de mau humor. E, há o cão de raça muito antiga a se acreditar de sangue azul e que por isso, não deve ficar por aí se misturando com qualquer um mas que, igual a todos os outros, também faz xixi no poste, só que discretamente quando ninguém está olhando. E o cão vaidoso. Uma espécie que late e corre a trás do próprio rabo, vive fazendo dietas e jamais come massas nem açúcar para, é claro, não perder a linha. E, os que sabem tudo e tudo explicam com citações de frases famosas e provérbios e palavreado difícil e sentem pena dos que não conseguem decifrar seus sábios latidos.

            No entanto, estas antropomórficas definições, que não resultam do lugar comum – o cão é a imagem de seu dono –, mas de concluir que talvez a espécie canina tenha muito mais coisas em comum com a espécie humana do que se imagina, na verdade, acabam desprestigiando a graciosa espécie que late. Porque o que deveras acontece é que os homens, como é do conhecimento de todos, nunca deixaram de ser lobo para os homens. E, porque, sobretudo, nestes briosos e bicudos tempos que correm, parece que estão a se dedicar, especialmente, a serem gatos.
 
 

domingo, 11 de março de 2001

Da música e de outros afins

             José Ramos Tinhorão se dispôs a estudar a presença da música popular no romance brasileiro e, então, foram quinze anos de pesquisa e leitura de uns quinze mil romances, muitos dos quais, no dizer de Alexandre Barbosa, praticamente desconhecidos do grande público. Na verdade, talvez fosse mais preciso dizer, simplesmente desconhecidos, porque, ao que é permitido perceber, “este grande público” se dedica – e isto é possível constatar nas listas dos mais vendidos – talvez não exatamente a ler, mas a comprar traduções de obras do Hemisfério Norte e desconhecer, na tradicional arrogância tão própria da mediocridade, excelentes, perfeitas, acabadas obras da ficção brasileira. 

            Na obra que veio a culminar a sua pesquisa, A música popular no romance brasileiro (São Paulo, Editora 34, 2000), José Ramos Tinhorão, além das informações que o título da obra faz pensar que serão dadas, oferece uma História da Literatura Brasileira extremamente rica, não apenas na relação de obras raramente mencionadas, como nas apreciações críticas a elas devotadas. Um tema inédito que a partir de uma metodologia sem reproche, se aprimora num texto elegante e de prazerosa leitura.

            A primeira obra estudada é o Compêndio narrativo do peregrino da América, de Nuno Marques Pereira, impresso em 1728, em Lisboa. Embora não haja unanimidade quanto ao gênero literário a que pertence, não há dúvida que se trata de ficção e sobremodo importante para conhecer certos hábitos da Colônia entre os quais a música então cultivada pelas camadas de escravos e do povo, principalmente de Salvador no início do século XVI. Como constata José Ramos Tinhorão, no capitulo XI há uma relação de instrumentos de percussão e de raspa que os escravos usavam nos seus rituais religiosos, os calundus, praticados na fazenda onde viviam, cujos sons escandalizaram o narrador que ali pernoitara, sobretudo ao neles perceber um significado que não admite deva ser tolerado. Baseado num argumento religioso de supina hipocrisia moral convence o fazendeiro a impedir que os negros continuem a praticar o seu culto, e numa espécie de auto de fé de tipo criado pela Inquisição, ato de suprema e cruel violência cultural, todos os instrumentos são queimados.

            Intolerância que, na verdade, é própria dos colonizadores, dispostos, sempre, a condenar qualquer manifestação cultural ou religiosa que se afaste das suas, tidas por melhores e por verdadeiras. Mentalidade que irá, atenuada ou não, perdurar ao longo dos anos (e, sabe-se, jamais  foi erradicada), orientando, sempre, o brasileiro a apreciar somente o que vigora nos países do tão decantado Primeiro Mundo.

            Assim, em certas passagens dos romances de Joaquim Manuel de Macedo, está presente o preconceito em relação à música popular brasileira – lundus, modinhas – e a preferência pelas músicas importadas, no caso as árias das óperas italianas. O mesmo acontece nos romances de José de Alencar e Machado de Assis, cujos personagens dançam valsas nas refinadas reuniões que freqüentam onde, é evidente, impera o piano .Quando são outros os instrumentos citados.( violão, viola, cavaquinho, tambu) e outros os gêneros musicais ( batuque, jongo, lundu, fado, modinha, tirana, fandango, xiba, baião), os personagens tanto quanto os bailes ou expressões musicais pertencem à classe popular e recebem, com freqüência, do escritor, um tratamento em que, não apenas fica evidente a pouco simpatia que lhes é devotada, como, por vezes, e é o caso de Júlio Ribeiro, um forte desprezo.

Na verdade, o desprezo pelas classes populares – quer no sentido de melhorar-lhe as  condições de vida, quer no sentido de respeitá-la nas suas manifestações artístico-religiosas – que jamais deixou de existir ( e valham as sempre honrosas exceções), na elite brasileira. O primeiro volume, dedicado aos séculos XVIII e XIX de A música popular no romance brasileiro finaliza com  referências à expressões musicais presentes no romance As voltas da estrada de Xavier Marques, publicado em 1930. De um lado, as festas populares, com o povo nas ruas, com floreios de flautas e algazarras de harmônicas, ensaiando a sua alegria; do outro, a festa de aniversário na casa do chefe político em que à valsa seguiu-se um tango. Como já o fizera em relação a outros textos, ao apontar para essas diferenças entre as danças e músicas populares e as de salão, próprias dos senhores da terra, funcionários públicos, profissionais liberais e comerciantes, José Ramos Tinhorão esboça – e se trata de uma, entre as múltiplas possíveis leituras de seu livro – uma síntese dos brasis: verso e reverso a dizer dos que, enraizados, são espontaneamente fiéis as suas origens e dos que, simplórios, buscam, alhures, na imitação, as razões para se sentirem outros.

 

domingo, 4 de março de 2001

A princesa

           Foi uma cerimônia simples, realizada no dia 1º de maio de 1843. O Imperador  Pedro II, dando o braço as suas irmãs, entrou no grande salão. Sentaram-se em torno da mesa e o Barão de Langsdorff, em voz alta e solene, leu o contrato de casamento. Depois de assinado, na capelinha contígua,  foi dada, pelo bispo do Rio de Janeiro, a bênção nupcial. Selava-se o destino da Princesa Francisca de Bragança:  acompanhar o marido, o Príncipe de Joinville, para viver na França.

Passados quase dois meses, o Belle Poule ,  navio que os levava, fazia a sua entrada no Porto de Brest. Circundada por terras planas e por rochas, a Princesa Francisca, acostumada com o esplendor da paisagem do Rio de Janeiro, não podia ver nessa que estava diante de seus olhos, qualquer atrativo quando foi instada por um dos franceses: -Confesse, princesa, que essa baía é bela ! Fez um esforço para esboçar a admiração que dela era esperada, mas não conseguiu. Um pouco antes, seu marido legislara: Ela é incapaz de sentir a beleza absolutamente poética que há neste céu encoberto e nessa enseada de contorno tão áspero! Mais tarde, diante de um enorme prato de cerejas, entusiasmado, as elogiava e não se impediu, de outra vez, decidir que ela: a Princesa Francisca, acharia, sem dúvida, a goiaba mais bonita do que a cereja.

            O relato do que aconteceu nos dias que antecederam o casamento da Princesa brasileira com o Príncipe de Joinville assim como do ocorrido em alto mar, na travessia do Atlântico e chegada na França, foi feito pela Baronesa E. de Langsdorff no diário em que registra a missão que lhe fora confiada: a de preparar a Princesa Francisca para  a sua vida na corte européia. Publicado pela EDUNISC de Santa Cruz do Sul e pela Mulheres de Florianópolis, em 1999, é um texto que não se rege por precisão de datas ou pela minúcia na narração dos fatos ou por detalhes descritivos. Muito rico ele é, porém, em observações sutis, pertinentes e sagazes sobre o que ela observa nas relações sociais e pessoais da Corte Brasileira. E, depois, no dia a dia de convívio constante com o mesmo pequeno grupo de pessoas, durante a viagem do Rio de Janeiro para o porto de Brest. Como bem o disse Miriam Lifchitz Moreira Leite, no prefácio da edição brasileira, a riqueza do Diário e da documentação oficial que lhe foi anexada, admite muitas outras leituras, de acordo com os interesses centrais de quem nele se detiver.       

            De fato, não falta beleza nas breves descrições feitas pela Baronesa de Langsdorff da natureza brasileira. E discreta elegância ao observar o comportamento dos que freqüentavam a Corte Brasileira onde constata a simplicidade das recepções. Sobretudo, embora européia, culta, branca e nobre, como assinala Zahidé L.Muzart, possuidora de uma inesperada lucidez que a leva a perceber o incongruente de certas situações. No entanto, ainda que sua presença, no texto, seja muito breve, a Princesa Francisca irá se delinear não apenas como a adolescente, ainda criança, sempre disposta à diversão e ao riso, mas como a mulher pronta a enfrentar o seu destino que não mede esforços, como nota a Baronesa de Langsdorff, no sentido de se tornar francesa, tentando não se agasalhar quando, na aproximação das costas européias, o ar fica mais frio, servindo-se de cerejas, tanto quanto os franceses, submetendo-se a escutar longas explanações sobre a História da França e, principalmente, suportando com um tranqüila dignidade, até surpreendente para os seus poucos anos, as observações trocistas que o marido faz sobre o Brasil e que se alia ao que lhe transmitira sobre o que os franceses pensam dos brasileiros: todos uns selvagens e que comem gente. Daí o seu medo de que possam pensar que possui costumes bizarros e a sua aplicação em adquirir os considerados hábitos de “polidez” e de “urbanidade” que seu marido acredita ser para os franceses, “o emblema da boa sociedade”. Então, é melancólico pensar na Princesa, aquiescendo a uma perda de identidade pessoal e nacional para satisfazer os que se julgam detentores de verdades. Talvez, também melancólico, pensar nessa benévola piedade da Rainha da França ao considerá-la  tão simples e ingênua o que a leva a acreditar, sem peias de dúvidas, e nas melhores e mais bondosas das intenções, que a fará muito feliz. O que torna, comovente, esta última imagem que dela fica no Diário da Baronesa de Langsdorff: na grande sala onde estava reunida a Família Real, sentada no sofá, perto de uma duquesa, a Princesa Francisca tendo nas mãos um pequeno cesto de costura que a Rainha acabara de lhe dar.