E Jacintho de Tormes, irritado, perguntava a quem o pretendia como sócio numa escavação de esmeraldas na Birmânia, se fora provada a existência delas no subsolo. Recebeu a exasperada resposta: “Esmeraldas! Está claro que há esmeraldas!...Há sempre esmeraldas desde que haja accionistas”.
Em
1949, Pablo Neruda escrevia o epílogo de seu Canto General onde, como poeta-narrador, ele canta a glória e a
miséria da América Hispânica. Dividido em quinze partes, cada uma composta de
unidades de diferentes formas e extensão, o texto se apresenta como um mosaico
a retraçar a História da América que foi esquecida, ignorada ou desprezada. Assim,
os primeiros poemas desenham, nos seus pássaros, rios, minerais, plantas e
homens que o habitam, a América pré-colombiana. Depois, o segundo Canto, “Alturas
de Machu Pichu” cumpre, no dizer do crítico Nelson Osório, a função de Invocatio dos poemas épicos que, no Canto General não dará voz aos deuses,
mas aos homens anônimos da América: desfilam os conquistadores, os libertadores
e no quinto Canto, “A arena atraiçoada”, os que foram vítimas dos sátrapas e
ditadores e das companhias imperialistas, sempre aptas e ansiosas para sugar
riquezas em terras alheias.
Ao se propor
cantar a América Hispânica, Pablo Neruda não podia ficar alheio ao que essas
companhias verdadeiramente significavam para o Continente; tampouco, podia
conter os indignados sentimentos que provocavam na sua perene espoliação sem
limites.
Os primeiros
versos de “La United Fruit Co”, no tom narrativo de muitos de seus poemas,
remetem a um tempo pregresso em que soa a trombeta divina e Jeová reparte o
mundo entre as definitivas e soberanas entidades: Coca-Cola In., Anaconda, Ford
Motors e a Compañia Frutera Inc. Esta, batizou as margens da América Central de
“Repúblicas Bananas” e, ali, estabeleceu o que Pablo Neruda chamou de ópera bufa. Uma expressão, certamente,
precisa para designar todo esse aparato erguido para mascarar a onipotente
vontade dos impérios do dinheiro que se servem de fantoches apátridas para
exaurir o Continente. São as moscas do
circo, sábias moscas entendidas em tiranizar:
os ditadores que, agraciados pelo dinheiro do Hemisfério Norte, usufruem de um
poder absoluto cujo preço é a obediência que lhes faz satisfazer os amos,
qualquer que seja a ordem recebida, entregando à miséria e à destruição o seu
próprio povo. É entre essas moscas
sanguinárias que a Companhia Fruteira desembarca, protegida pelas leis dos
ditadores de turno, para arrebatar o café e as frutas no abismo açucarado dos portos.
Na verdade,
são acordos que ninguém ignora como, igualmente, são conhecidas as vítimas que
fazem. Na última estrofe do poema, Pablo Neruda se volta para elas: índios, enterrados
em meio à névoa da manhã, o corpo a cair, uma
coisa / sem nome, um número caído,/ um racimo de fruta morta/ derramada na podridão. Síntese do que sempre foram,
para os investidores, para os que professam proselitismos, para os que
pretendem ser salvadores dos que endossam outras ideologias, os homens do Continente. E a História que tem
sido feita, ao eludir ou esconder essas relações, não apenas faz desaparecer
assassinatos e roubos como impede perceber que as mesmas manhas e as mesmas
patranhas continuam a vigorar no mapa da América.
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