É uma
obra sem precedentes na literatura chilena da época, ao usar textos de
diferentes origens – reportagens, trechos de contos e de crônicas, digressões
ensaísticas – para elaborar um romance que
não apenas se constrói com recursos experimentais como refaz uma
História Oficial fadada a permanecer esquecida ou ignorada: 60 muertos en la escalera. Seu título
remete ao tema central, o massacre de sessenta e três jovens na Universidade e
no edifício do Seguro Obrero, ocorrido em Santiago do Chile em 5 de setembro de 1938. Assunto de uma crônica de Carlos Droguett,
“Los asesinados del Seguro obrero,” publicada para lembrar o ocorrido, um ano
antes, aparece como fio condutor desse romance que escreverá mais tarde e que
será publicado pela Nascimento, em 1953.
A
ação se passa em Santiago, mais especificamente no edifício do Seguro Obrero e
não dura mais do que algumas horas. Já no jornal da noite haviam
aparecido as notícias: fracassara uma revolta contra o governo, um
militar havia sido assassinado e os revoltosos,
todos estudantes, parecia que tinham morrido. É a primeira informação sobre o acontecido
que irá ser narrado cronologicamente, porém, em meio aos outros elementos que,
entrelaçados, irão construir o romance. Então, há uma volta ao passado para
contar sobre o governante. Carlos Droguett não lhe diz o nome, como tampouco o
do general que lhe executa as ordens. Mas, eludi-los não impede reconhecer
Arturo Alessandri, presidente do Chile,
na época, e o general Ibañez que no romance de Carlos Droguett personificarão o
Gobernador e o General. Mas, se, abstraindo nomes e datas,
Carlos Droguett destrói a noção de História a partir exatamente dessas ausências
de informação é que a sua narrativa vai adquirir um significado mais
amplo. Porque, nada é mais reconhecível, por comum, no Continente, do que esse Gobernador famoso. Ele falava bem,
tinha uma bela voz, verdadeiramente milagreira nas regiões pobres do país. Foi
querido pelos humildes, dizendo-se um deles, prometendo-lhes coisas fáceis e boas mas, aqueles que
ele dizia amar logo foram ignorados ao se tornar Gobernador. Passou a viver e a
falar só para os de cima que tentavam
não se lembrar de suas origens o quê era algo que ele também tentava esquecer e
por isso aos velhos amigos mandava prender e enviar para o sul onde havia vento
e chuva e trabalhos forçados. Então, o amor que lhe dedicavam os pobres se
transformou em ódio e eles passaram a sonhar com outro Gobernador jovem e bom.
Mas, ele, já disforme e velho queria governar muito, até o fim, mostrando para
os de cima, o velho sorriso de seus
velhos dentes. E entre a esperança do povo humilde e o seu querer se
instalaram as prisões porque sempre havia um estudante ou algum operário que
por, dizer uma palavra a mais ou por fazer um gesto a menos, eram
suspeitos.
Quando, nesse
mês de setembro, alguns estudantes e alguns operários quiseram expulsá-lo do
Poder não sabiam bem do que ele era capaz. Enclausuraram-se na Universidade
e começaram a disparar contra o Palácio.
Lá dentro, mal soube desses primeiros tiros o Gobernador, avisado, chamou o
General e lhe disse algo. O General se foi em busca de seus soldados. Apenas o
tempo de trazer o canhão, disparar e, derrubadas as portas da Universidade, iniciar a chacina.
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