Angeles
Mastretta nasceu no dia 9 de outubro de
1949 na cidade de Puebla, no México. Formada em Jornalismo, com trabalhos
publicados em Nexos, Excelsior,
Unomasuno, La Jornada, Proceso, o seu primeiro romance, Arráncame la vida, data de
1985.Constituiu-se um êxito absoluto nas suas sucessivas edições, recebeu o
Prêmio Mazatlán e foi traduzido para onze idiomas. Em 1990, foi lançado Mujeres de ojos grandes e, em 1994, Puerto libre, ambos coleções de contos.
Mal de amores apareceu em 1995 e, em
maio de 1998, já estava na sua décima edição. Conta a história de amor de
Emilia Sauri e Daniel Cuenca. Como pano de fundo, a Revolução Mexicana e, nela,
a trajetória de um e de outro se enovelando nos encontros que os unem de vez em
quando.
O narrar de Mal de amores está centrado em Emilia. Seu pai é dono de uma
farmácia, com cheiro de madeiras e
brilhos de porcelanas, na qual não falta nada. No tempo em que perambulara
pela Europa, havia juntado os principais remédios de cada lugar. Também,
aprendera fórmulas para obter muitos deles e podia distinguir a utilidade de
cada pó que trouxera. E aí, entre seus frascos brancos e centenas de caixinhas
numeradas, cresceu Emilia, tirando o pó das estantes e lendo os livros de
Medicina que encontrava sobre as mesas. Depois, foi aprendendo com o doutor,
velho amigo da família, o que ele podia lhe ensinar de sua profissão. E os
conhecimentos que adquiriu, sempre os usou Emilia quando as circunstâncias o
exigiram. Primeiro, foi o jovem ferido pela polícia que levaram para a
farmácia, ensangüentado. Ela teve as mãos precisas e os gestos certos para
ajudar o doutor a salvá-lo. Depois, no povoado terroso, quente e arisco, que cheirava a cana de açúcar e era feito de casas
de barro e de gente pobre, para onde fora, acompanhando Daniel, sempre a fazer
a Revolução, ela ensinou a curar febres, a ferver a água, a aliviar as dores de
cabeça, a costurar uma ferida, a distinguir as plantas venenosas das que podem
curar. Muita gente do povoado quis consultar e ela, todas as manhãs, instalava um consultório improvisado perto da
porta da cantina e examinava tantos doentes quanto apareciam. À tarde, visitava
um por um dos que não podiam levantar. E, todo o dia, se desesperava pela
ignorância que a impedia de curar por meio das plantas que ali perto cresciam
e, por isso, cada madrugada saía a procura das folhas conhecidas. Mas as
doenças eram muitas e, por vezes, ela nem lhes sabia o nome e ficava sem poder
agir, sendo capaz somente de maldizer.
E,
outra vez, segue Daniel a buscar a Luta, agora para um povoado “calado e silvestre; outra vez, um espetáculo feito para fazer chorar de
impotência – braços semi-arrancados, mãos
sem dedos, troncos com as pernas apodrecendo, cabeças sem orelha, tripas de fora – que ela exorcisava, procurando a solução para cada sofrimento
que se rendia às suas mãos. Mas, vencida sempre, porque nos seus braços
morreram duas crianças cujo único mal fora a falta de água limpa; porque mandou
para morrer em casa umas seis pessoas que se tivessem passado dez dias num
hospital civilizado teriam se curado. Quando deixou o povoado com Daniel na sua
insaciável e inatingível busca de justiça e liberdade, o trem que os levava
também era cheio de doentes e feridos de guerra. Escutar suas queixas e lhes
fazer recomendações para quando descessem do trem, era tudo o que ela podia
oferecer. Ao chegar na cidade do México, entre uma e outra hora de amor com
Daniel, sempre a partir, foi ao Hospital da Cruz Vermelha trabalhar na
profissão da qual não tinha sequer o título mas que exercia com orgulho e
sapiência.
Seu
caminho termina em Puebla onde começara e, aí, pode ser feliz sem Daniel, nesse
hospital alternativo em que se congregavam, para curar, os médicos com diploma,
os que se dedicavam à homeopatia, as autoridades indígenas e uma parteira mais apta para o transe de tirar filhos do
que o mais afamado médico novaiorquino. Emilia tinha de suas, muitas
certezas e não esquecera aquela,
aprendida com o doutor que lhe ensinara os primeiros passos na arte de
curar, quando ainda era mocinha: que
ninguém cura sem o desejo intenso e inteiro de fazê-lo, que nenhum médico pode
se permitir viver longe desse desejo.
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