Recolhidos
por Walter Mauro e Elena Clementelli são depoimentos de vinte e um escritores
contemporâneos que dizem de sua relação com o Poder seja o religioso, seja o
político, seja o econômico. Dentre eles, Pablo Neruda, Carlos Fuentes, Gabriel
García Márquez, Ernesto Sabato, Mario Vargas Llosa, Manuel Scorza e Miguel
Angel Asturias fazem parte da lista e que os entrevistadores encontraram ao
longo dos anos e em diferentes lugares.
Em
Mallorca foi o encontro com Miguel Angel Asturias. Autor de El señor Presidente, um clássico
romance da ditadura, precisamente aquela que se instalou no seu país em 1898,
um ano antes de seu nascimento e sob cuja égide passou a infância e a
adolescência. No seu testemunho, começa por
lembrar a casa enorme onde passou seus primeiros anos que permanecia,
sempre, com as portas e as janelas fechadas. No seu interior, a família levava
uma vida de clausura, movida pelo terror que inspirava a ditadura de Manuel
Estrada Cabrera. Depois, relata o episódio de sua prisão que durou dezessete
dias, para pagar, junto com outros estudantes, o crime de ter ido ao teatro.
A
sua casa, como a de muitos outros guatemaltecos, onde as pessoas se moviam
silenciosas e cheias de cautela e a experiência da prisão (lúgubre, suja, repugnante, trágica)
constituem a realidade sobre a qual se estrutura o livro que lhe deu o Prêmio
Nobel. A realidade não lhe permite
isolar-se dos acontecimentos ao seu redor e, diante somente é permitida à convicção de que não é possível ser escritor
apolítico em países onde existam
problemas tão sanguinários e terríveis [..],)
onde o poder se filtra, se insinua, onde prevalece a constante satrapia, a
violação dos direitos humanos, a insegurança das pessoas.
E
por se comprometer com o seu povo, dele deve se afastar para viver o exílio e, então, cumprir o fado que acredita
ser o da Literatura hispano-americana: tter, em tantas vezes, seus grandes
escritores produzindo em terra alheia.
É
que os poderosos da América, num longo tempo que não termina – sejam ditadores
confessos ou aqueles que se escamoteiam
sob o rótulo de presidente – não suportam
que haja alguém passível de pensar ou que, simplesmente, seja capaz de
ver o que existe ao redor. Na maioria dos casos, no Continente, alguns ricos
rodeados de muita miséria por todos os lados.

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