domingo, 7 de fevereiro de 1999

O Escritor e o Poder. Miguel Angel Asturias

           Em 1974 a Rizzoli Editori de Milão publicou La Trappola e la Nuditá que, no ano seguinte, foi traduzido para o espanhol, editado pela Caralt de Barcelona sob o título Los escritores frente al poder.

            Recolhidos por Walter Mauro e Elena Clementelli são depoimentos de vinte e um escritores contemporâneos que dizem de sua relação com o Poder seja o religioso, seja o político, seja o econômico. Dentre eles, Pablo Neruda, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez, Ernesto Sabato, Mario Vargas Llosa, Manuel Scorza e Miguel Angel Asturias fazem parte da lista e que os entrevistadores encontraram ao longo dos anos e em diferentes lugares.

             Em Mallorca foi o encontro com Miguel Angel Asturias. Autor de El señor Presidente, um clássico romance da ditadura, precisamente aquela que se instalou no seu país em 1898, um ano antes de seu nascimento e sob cuja égide passou a infância e a adolescência. No seu testemunho, começa por  lembrar a casa enorme onde passou seus primeiros anos que permanecia, sempre, com as portas e as janelas fechadas. No seu interior, a família levava uma vida de clausura, movida pelo terror que inspirava a ditadura de Manuel Estrada Cabrera. Depois, relata o episódio de sua prisão que durou dezessete dias, para pagar, junto com outros estudantes, o crime de ter ido ao teatro.

              A sua casa, como a de muitos outros guatemaltecos, onde as pessoas se moviam silenciosas e cheias de cautela e a experiência da prisão (lúgubre, suja, repugnante, trágica) constituem a realidade sobre a qual se estrutura o livro que lhe deu o Prêmio Nobel. A realidade  não lhe permite isolar-se dos acontecimentos ao seu redor e, diante somente é permitida  à convicção de que não é possível ser escritor apolítico em países onde existam problemas tão  sanguinários e terríveis [..],) onde o poder se filtra, se insinua, onde prevalece a constante satrapia, a violação dos direitos humanos, a insegurança das pessoas.

              E por se comprometer com o seu povo, dele deve se afastar para viver o  exílio e, então, cumprir o fado que acredita ser o da Literatura hispano-americana: tter, em tantas vezes, seus grandes escritores produzindo em terra alheia.

             É que os poderosos da América, num longo tempo que não termina – sejam ditadores confessos ou  aqueles que se escamoteiam sob o rótulo de presidente – não suportam  que haja alguém passível de pensar ou que, simplesmente, seja capaz de ver o que existe ao redor. Na maioria dos casos, no Continente, alguns ricos rodeados de muita miséria por todos os lados.

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