Carlos
Fuentes estava em Paris quando respondeu às perguntas formuladas e contou que o
primeiro conflito em que se viu mergulhado e que o fez se dar conta de que o
mundo não é um mar de rosas foi o ter se tornado, aos olhos de seus colegas, num colégio
norte-americano, um menino mexicano
maldito, comunista no qual era preciso bater, ao qual era preciso insultar porque nesse ano de
1938, o presidente do México havia expropriado o seu petróleo em detrimento dos
que, até então, o explorara: os gringos. Carlos Fuentes tinha, então, nove anos.
Ao voltar seu pai para o México, depois de ter sido Conselheiro na Embaixada
Mexicana nos Estados Unidos, ele já era um adolescente e, pela primeira vez,
passou a freqüentar um colégio religioso, enfrentando as duras provas – ele
confessa que o traumatizaram – de uma hierarquia fechada e classista. Foram
agressões sobre as quais, não tinha, no momento, pela sua pouca idade,
condições de entender totalmente os motivos que as originavam. Mais tarde, já
adulto, não somente apreende esse jogo do Poder, como lhe fica, muito claro, o
peso que ele exerce nos espaços do Continente e que define como despótico, dogmático e monolítico. Um
Poder que faz com que o escritor
desempenhe, em grande medida, uma função informativa que os meios de
comunicação domesticados ou inexistentes não podem exercer. Função
informativa que, ao se opor ao Poder, confere ao escritor uma função
revolucionária. Compete-lhe, então, romper os quatro séculos de silêncio e
reescrever a História da América, combatendo, assim, o maniqueísmo dos discursos,
dos manuais, das leis que imperam desde que os ibéricos aportaram no Novo
Mundo.
E
isto, de fato, parece imprescindível no Continente, pois ele está sempre
submisso aos despautérios de seus déspotas. Porque é ainda um espaço extremamente frágil e transitório diz Carlos Fuentes, em que a
figura do tirano tem sido uma constante, em que , ainda é preciso escolher
entre a civilização e a barbárie, entre
criar uma comunidade e estabelecer uma convivência ou viver sob a bota, a
tortura, a opressão e a rendição ao domínio dos Estados Unidos. Por isso, acredita que o
escritor latino-americano tem muito a dizer. Sobretudo porque no Continente, ao
longo de sua Historia, os homens não apenas foram assassinados como foram
assassinados os sonhos que sonharam.
E
esses, no seu entender, também, devem ser recuperados.
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