domingo, 14 de fevereiro de 1999

O Escritor e o Poder. Carlos Fuentes.

          Com data de setembro de 1973, a entrevista que Walter Mauro e Elena Clementelli fizeram com o mexicano Carlos Fuentes. Foi publicada no ano seguinte, parte do volume La trappola e la nuditá (Rizzoli Editore, Milão) que, traduzido para o espanhol em 1975, apareceu em Barcelona, pela Caralt, sob o título Los escritores frente al Poder.

           Carlos Fuentes estava em Paris quando respondeu às perguntas formuladas e contou que o primeiro conflito em que se viu mergulhado e que o fez se dar conta de que o mundo não é um mar de rosas foi o ter se tornado, aos  olhos de seus colegas, num colégio norte-americano, um menino mexicano maldito, comunista no qual era preciso bater, ao qual era preciso insultar porque nesse ano de 1938, o presidente do México havia expropriado o seu petróleo em detrimento dos que, até então, o explorara: os gringos. Carlos Fuentes tinha, então, nove anos. Ao voltar seu pai para o México, depois de ter sido Conselheiro na Embaixada Mexicana nos Estados Unidos, ele já era um adolescente e, pela primeira vez, passou a freqüentar um colégio religioso, enfrentando as duras provas – ele confessa que o traumatizaram – de uma hierarquia fechada e classista. Foram agressões sobre as quais, não tinha, no momento, pela sua pouca idade, condições de entender totalmente os motivos que as originavam. Mais tarde, já adulto, não somente apreende esse jogo do Poder, como lhe fica, muito claro, o peso que ele exerce nos espaços do Continente e que define como despótico, dogmático e monolítico. Um Poder que faz com que o escritor desempenhe, em grande medida, uma função informativa que os meios de comunicação domesticados ou inexistentes não podem exercer. Função informativa que, ao se opor ao Poder, confere ao escritor uma função revolucionária. Compete-lhe, então, romper os quatro séculos de silêncio e reescrever a História da América, combatendo, assim, o maniqueísmo dos discursos, dos manuais, das leis que imperam desde que os ibéricos aportaram no Novo Mundo.

          E isto, de fato, parece imprescindível no Continente, pois ele está sempre submisso aos despautérios de seus déspotas. Porque é ainda um espaço extremamente frágil e transitório diz Carlos Fuentes, em que a figura do tirano tem sido uma constante, em que , ainda é preciso escolher entre a civilização e a barbárie, entre criar uma comunidade e estabelecer uma convivência ou viver sob a bota, a tortura, a opressão e a rendição ao domínio dos Estados Unidos. Por isso, acredita que o escritor latino-americano tem muito a dizer. Sobretudo porque no Continente, ao longo de sua Historia, os homens não apenas foram assassinados como foram assassinados os sonhos que sonharam.

           E esses, no seu entender, também, devem ser recuperados.

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