Walter
Mauro e Elena Clementelli não puseram data na entrevista feita, no Bairro
Latino de Paris, com Manuel Scorza, o autor de Redoble por Rancas e Historia
de Garabombo el invisible. Mas,
pela data de publicação do livro em que foi incluída (La Trappola e la Nuditá, Rizzoli, Milão), sabe-se que foi antes de
1974. Como tantos outros, quase todos, o escritor peruano fora a Paris em busca
de uma vida cultural, sempre motivo de atração para a elite latino-americana.
Já um autor de sucesso, Manuel Scorza diz não ter ido ao Velho Continente em
busca de modelos ou de aplausos e como um escritor do Continente é que responde
às perguntas, mostrando-se extremamente leal às suas origens.
Filho
de pais que pertenciam às minorias oprimidas do país, desde pequeno ouviu-lhes
as histórias de uma vida de perigos e misérias e dessa dor lhe nasceram as
primeiras inquietações sociais. Ainda na adolescência, se uniu à
organizações que lutavam contra o
ditador de turno. Na Universidade, as ações políticas o levaram à prisão e a um
exílio de sete anos nos quais percorreu a América e assistiu, petrificado, ao seu drama. Foi o momento de tomada de
consciência que lhe irá assinalar o caminho de escritor e do papel que deve
representar nas sociedade latino-americana. Assim, no seu entender, o principal
dever do romancista na América Latina é criar uma linguagem histórica própria
que liberte das falsidades impostas pelos colonizadores o que significa livrar
a primeira batalha pela liberação da
palavra. Eleva-se, então, a voz do Continente para descrever o seu mundo
num romance que Manuel Scorza define como a ágora: a praça na qual são
planteados os problemas – provenham eles de qualquer espaço, de qualquer
cultura – que aterrorizam a América Latina. Porque, ele diz, em países onde a
liberdade é pouca, onde não existem filósofos e a imprensa é manietada, o
romance se converte nesse lugar amplo e irrestrito onde se expressam os
conflitos. Na verdade, ninguém ignora que esses conflitos são calados ou porque
os habitantes do Continente foram treinados para deles não se dar conta ou
porque lhes é impedida qualquer manifestação que mude as regras e as leis, -
isto é sabido- foram feitas pela minoria e em seu próprio proveito.
Em
Redoble por Rancas, o personagem
central é símbolo da injustiça do Poder. Quando o livro foi publicado, um
prisioneiro que cumpria pena numa cárcere da selva amazônica peruana, escreveu
uma carta para uma revista de Lima, dizendo: “Eu existo, sou o personagem que
aparece em Rancas. Suas palavras provocaram emoção no Peru e fizeram com
que o Presidente lhe concedesse a liberdade, afirmando que o fazia em
consideração ao fato de ser o prisioneiro um
símbolo da dor e do sofrimento dos meeiros.
Libertar uma das vítimas do Sistema
foi um gesto caridoso que ensejou ao Presidente a almejada admiração popular.
Não mudou, porém, o que quer que fosse para que o círculo de miséria e
injustiça fosse quebrado.
Sem dúvida, um expressivo exemplo de desencontro entre o Poder e o Escritor.
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