Francisco de
Aguirre foi designado por Pedro de Valdivia, governador de La Serena e de
Barco. No documento, datado de 8 de
outubro de 1551, era revogado o poder e o cargo de Juan Núñez de Prado,
fundador e governador de Barco.
Quando,
à frente de uns sessenta ou setenta homens, Francisco de Aguirre chega à
cidade de Barco, Juan Núñez de Prado
estava ausente. Ainda assim, a primeira providência do recém chegado foi
determinar a sua detenção e a de seus capitães e mandar soldados a sua procura.
Assim consta em Historia de la Argentina,
de Vicente Sierra (Buenos Aires, Unión de Editores Latinos,I).

Em El hombre que trasladaba
las ciudades, romance de Carlos Droguett,
publicado pela Noguer de Barcelona em 1973, o relato da chegada de Juan Núñez
de Prado na cidade - ao voltar de sua
excursão exploratória pelos arredores -
e sua prisão são narrados no quarto capítulo. Aparece, diz o narrador, envolto
no vento. Um verbo na terceira pessoa do plural, viam, introduz a sua imagem: um advérbio, nitidamente, completa o sentido do verbo. Então, viam nitidamente,
à tênue luz das estrelas, primeiro, os cascos do cavalo. Logo, ele, o capitão,
enrolado duas vezes na capa, trazendo ramos,
árvores, arbustos, flores, folhas novas, folhas verdes recém nascidas, recém
crescidas, certamente belas e tranquilizadoras. Outra vez, referência ao
cavalo, agora, a sua cabeça imóvel. E a surpresa de Francisco de Aguirre ao
reconhecê-lo nesse cavaleiro que chegava.
Juan Núñez de Prado vem sonolento e assim, sonolento e entediado
responde e pergunta coisas, risonho. Sem transição, separada apenas por uma
vírgula, se acrescenta a seqüência que diz do destino dado aos padres da
cidade: a prisão. E, no parágrafo seguinte, a voz de Juan Núñez de Prado, já
então, preso e amarrado no seu quarto. Dirige-se à Aguirre e quer saber porque
foi recebido por ele com beijos e abraços e agora está atado de pés e mãos. O
diálogo se estabelece. Um, desejando conhecer o seu destino –-Vais me matar – e
o outro se embaralhando em acusações que repousam nas mudanças da cidade e nos crimes devidos a essas mudanças.
São monólogos de Juan Núñez de Prado que se sucedem, tendo, entre
eles, alguma pergunta de Aguirre que,
finalmente, lhe responde o que perguntara: não irá morrer e sim, partir,
prisioneiro para o Chile. E diante de uma nova pergunta de Juan Nuñez de Prado
– se trazia Deus consigo – Francisco de Aguirre monologa, por sua vez, dizendo
de suas relações com a divindade e com a Igreja e, como para se desculpar,
afirma: pensa que sou um simples
instrumento de umas mão altas e distantes, inalcançáveis para ti e para mim, de
umas garras, se queres, que vem tomar posse de ti através do mar, desde Madrid
ou através do inferno [...], vim mandado como vós, como Cortés em Nueva Espanha e Pizarro no Peru e é possível que
venham outros atrás de mim para me prender.
Muitas outras coisas ele diz, ainda, para o seu prisioneiro e a
Conquista vai se delineando nas suas palavras,
mostrando-se não mais como um fato encerrado mas como algo que se
prolonga na História do Continente. Nesse seu nunca acabar de ser colonizado.
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