Em
1974, em quarta edição e Segunda, na Editora Sudamericana de Buenos Aires, foi
publicado Dailan Kifki, de Maria
Elena Walsh. Quase duzentas páginas de encantamento.
A
história, contada por uma voz feminina e juvenil, é uma sucessão de pacíficas
aventuras. Primeiro, a chegada do elefante Dailan Kifki com a carta explicativa
pendurada na orelha. Como seu dono não tinha como dar-lhe de comer, o
entregava, confiando no bom coração da destinatária: que lhe desse sopinha de
aveia e lhe permitisse ver desenhos animados, programas que ele adorava.
Depois, o resto: o elefante empanturrado de tanto comer arroz com leite,
obrigando a nova dona a chamar os bombeiros; o elefante adormecido sobre a muda
de feijão recém semeado que, ao crescer, transformou-se em árvore; o elefante a
voar com as asas que lhe foram feitas para descer da árvore; os trâmites para
fazê-lo voltar à terra; seu retorno e os festejos que dessa sua volta advieram.
Finalmente, esse final feliz, o casamento da narradora com o bombeiro.
É
um relato que provoca sorrisos. Ou pelo decantado recurso de um gesto ou
expressão que se repete, ou pela rima que se instala no meio das frases chãs,
ou por situações imprevistas.
É
um mundo onde reina a ingenuidade. Como se todos os adultos tivessem crescido
na bondade, salvos da mediocridade áspera e desoladora. Entre todos os
personagens, há como que o milagre da compreensão, acontecida sem arestas, a
partir das palavras da senhorita narradora, sensibilizada por esse elefante que
lhe apareceu à porta da casa. Eo carinho
predomina, surpreendente, nas relações instauradas entre ela e o bombeiro, o
chefe de polícia, o prefeito da cidade, o embaixador e tantos outros chamados
para ajudar a volta do elefante que voava pelos céus, mais o bombeiro.
Na
imaginação, no colorido, no pueril que conduzem o relato há algo de deleitoso,
de sedutor. Mas é, sobretudo, na recusa em retratar o mundo dos adultos e em
reproduzir a tradicional e maniqueísta – e o mal e o bem – moral, buscando
proselitismos que Dailan Kifki se
mostra uma história de ingênua magia. Perfeitamente liberta dos lugares comuns
que são próprios de grande parte da Literatura Infantil e prenhe de todas as
ternuras.
A
essas qualidades se acrescenta o sortilégio dos desenhos, assinados por Vilar.
Traços finos, risonhos, graciosos, sempre em tons de rosa e em negro. Um todo,
palavras e desenhos, feito para a alegria.
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