São
mais de cinqüenta artigos e correspondem a cada uma das etapas da vida
jornalística de Rodolfo Walsh: El
violento oficio de escribir que a Planeta, de Buenos Aires, publicou em
1995.
Nascido
em 1927, seu nome consta como desaparecido, durante a ditadura argentina, desde
o dia 25 de março de 1977. Tinha cinqüenta anos e, pouco antes de ser morto à
bala, na rua, havia colocado numa caixa de Correio a “Carta aberta de um
escritor à Junta Militar”, seu último
texto. Um texto considerado admirável ao oferecer informações e explicações no
tom preciso e definitivo que sempre procurou.
A
extensa matéria jornalística que compõe El
violento oficio de escribir, o mostra como um escritor excepcional,
mestre do relato sereno, da argumentação
demolidora, da diatribe, da denúncia,
da entrevista e da pesquisa.
“Las
ciudades fantasmas” é, dessas qualidades, um exemplo. Escrita em maio de 1969,
resulta fruto de uma pesquisa de sete dias, realizada no interior da Argentina
(Fisherton, Resistencia, Las Toscas e Villa Ocampo), sobre a glória e a
decadência de La Florestal, a célebre companhia produtora de tanino.
Em
1911, um jornalista francês a havia considerado a maior empresa industrial
argentina: 270 léguas de propriedades, 300 km de ferrovias, 2 portos,
26.000 cabeças de gado, 5 povoados, 6
fábricas de tanino. Poucos anos depois, tudo na região da poderosa La Florestal
dela irá depender. Mais outros tantos anos, tudo dela será decadência e ruína.
Rodolfo
Walsh procura respostas diante do império destruído, povoado de cobras e de
vegetação selvagem que nascera, em 1902, de capitais alemães e franceses
aos quais foi acrescido, mais tarde,
aquele de um barão inglês.

A
explicação sobre o desastre talvez seja tênue ( a matéria prima estava
esgotada) mas as conseqüências, cruéis e duradouras: cento e cinqüenta mil
pessoas que viviam, direta ou indiretamente da indústria do tanino ficaram
abandonadas à própria sorte. Cortaram
tudo, levaram tudo, mataram tudo,
exclama o padre, filho de um antigo trabalhador em meio às cicatrizes da
paisagem.
Rodolfo
Walsh cita cifras, descreve o abandono das máquinas e das instalações e se fixa
no indivíduo que ficou sem nada ou naqueles que foram assassinados nas matanças
quando das rebeliões. Entremeia dados à história e ao relato e aos
depoimentos dos que ainda lá estão e não
pode fugir à denúncia do descaso, indiferença e irresponsabilidade do governo:
diante dos despossuídos permite que a melhor e a maior parte das terras seja
entregue a gente de fora; diante da marcha dos famintos, envia guardas com
fuzis.
São
verdades frente às quais Rodolfo Walsh não titubeia. E seu depoimento
jornalístico severo, emocionante e incisivo possui o significado dos grandes
textos: a busca das transformações.
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