Ceilão,
Stokholmo, Antofogasta, Venezuela, Brasil são paisagens cristalizadas no
amanhecer, na névoa, no ar imóvel, na noite sozinha. Sempre o encontro consigo
mesmo o quê também significa um encontro com
todas as coisas.
No
seu Prólogo poético ele diz: Tenho
orvalho para todos. Para tudo, seria também dizer. Porque Pablo Neruda faz
poemas para a âncora, para o cavalo, para a cama, para as coisas quebradas,
para o gato, para o elefante... Para esse pequeno barco que se arrebentou
contra as rochas. Chamava-se La Bretona e o poeta a lembra na fragilidade de seu
desfazer-se, na luta perdida para o oceano. É a primeira parte do poema, duas
estrofes que a descrevem (curva de uma quilha que foi nuvem/ um peito de pomba marinheira), que a mostram desfeita
(quatro tábuas feridas/ pequenas como plumas), no efêmero existir (foi só um feixe de espuma/ um raio de magnólia que golpeava/ e ali ficou o
despojo).
Na
terceira estrofe se introduz o narrativo: há o homem, a casa na colina e o alto
fogo coroando a morte das madeiras.
Participando do ritual da queima, na estrofe seguinte, o poeta se faz presente:
Nós ficamos mudos.
Logo,
a quinta estrofe retoma o tema do título, a última viagem, agora já não mais na
liberdade do mar, mas, desfazendo-se em pequenas chamas na viagem final.
E
a ode, cantando esse destino de morrer de La Bretone que se desfaz no mar e se
dilui no fogo, na ultima festa, fala
do ofício ao qual se entrega o poeta: Eu
trabalho e trabalho,/ devo substituir
tantos olvidos, disse na primeira página do livro.
Uma pequena barca golpeada pelas ondas, umas poucas
tábuas destruídas pelo fogo, para ele, se constituem momentos de emoção. Daí
ficar mudo e impotente diante do nada que se instala. E o poeta é parte do
drama quando assiste o passar de algo que existiu, que navegou, para esse
afastar-se em fosfóricos fogos
extraviados . Seu poema, então, faz desses momentos o registro para impedir
o esquecimento.
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