Jorge
Henrique Adoum é equatoriano e cidadão da América. Poeta que já não faz mais
versos porque, no seu dizer, hoje muita gente está poetando. Seu nome, no
entanto, se confunde com a poesia deste século no seu país, tanto e tão bem ele
versejou. É essa, uma afirmativa de Inés Larro Borges, da Brecha, de Montevidéu, que o entrevistou no dia 5 de dezembro de
1997. Uma entrevista na qual ele se mostra um homem comprometido com o
Continente: com o seu passado e com esse futuro, sempre vislumbrado pelos que
desejam uma justiça social.
Depois
de muitos livros de versos, em 1995, Jorge Henrique Adoum publica o seu segundo
romance, Ciudad sin ángel, que narra
uma história de amor entre exilados em Paris e as conseqüências do
desaparecimento da personagem feminina ao voltar a seu país, no Cone Sul. Em
meio ao lirismo, estão as passagens, extremamente fortes e cruéis, sobre a
tortura. Observações da entrevistadora o levam a dizer que teria se sentido
feliz se o livro fosse extemporâneo ao abordar um tema antigo e obsoleto. Foi, por isso, acusado de ter os olhos na nuca,
de escrever sobre o passado. Mas, continua achando válido documentar esse proceder
das ditaduras para que haja uma tomada de consciência que leve à negação, à
impossibilidade de que volte a se repetir. E, embora alguns poucos anos tenham
se passado e as pessoas julguem importante esquecer – Mario Vargas Llosa disse
que seria horrível para a Argentina que se castigassem os militares –, Jorge
Henrique Adoum se sente tão latino-americano que não pode se eximir de sofrer
pelas iniquidades que aconteceram em qualquer dos espaços do Continente, nesses
terríveis anos de exceção.
E
se atribui direitos. De poder escrever sobre o que o magoa – a mancha das
mortes e desaparecimentos e perseguições que não poupou a nenhum país do
Continente – de lamentar essas fronteiras que lhe separam os espaços, fazendo
com que se ignorem mutuamente, condenados, sempre, a um isolamento que só
raramente se rompe: quando algo deles interessa à “Metrópole”.
É que somos respeitosos demais com as
fronteiras, ele diz. Palavras que levam à necessidade de lembrar o que isso
significa de perdas, desconhecimentos, preconceitos, de opções que fazem
ignorar a literatura, a música, a pintura, o cinema e o artesanato dos países
vizinhos.
Porque
parece que a luz e a beleza só podem estar no Hemisfério Norte.



