É
um romanceiro de nossos dias. Publicado em 1984, doze anos depois teve a sua
segunda edição. Um pequeno exemplar de delicada diagramação, cuja capa traz um
belo desenho da autora: paisagem de ruas que se encontram, de tetos amontoados
sobre os quais reinam as torres brancas da igreja.
Romancero de sur y viento encerra treze romances,
dedicados aqueles que foram a semente do
que fomos. Inscrevem-se nas falas populares, resgatadas por María Cristina
Casadei que os transforma em versos feitos de ritmos perfeitos e harmonias.
Neles se sucedem amores e tristezas. Desenham-se as silhuetas de personagens
que fizeram a História de Carmen de Patagones, breve cidade do extremo sul do
Continente. A história que fica à margem dos manuais e perdura nesse contar que
se renova em cada geração diante das paixões infelizes, das mortes que ceifam
vidas recém começadas.
Paixões
que se querem completas como as de Mariquita e Edundo, como a de Adolfo e
Isaura; sentimentos que submergem em penas de ausência e solidão; morte que
busca o pescador no seu ofício, a mulher vítima do ciúme e busca na guerra o
guitarrista e leva o índio insubmisso a procurá-la.
Das
vozes coletivas se alimenta María Cristina Casadei e sua ímpar veia poética faz
desabrochar, outra vez, a vida. Cada verso que escreve transborda de um lirismo
que, sobretudo, se enraiza nessa natureza de ventos e de mar onde se encrava
Carmen de Patagones. Esboços de salgueiro, de tília, de malva, de grilos, de
frutas. O vento, a lua, o sol, alguma estrela e se desenha o espaço, se
instituem os ritos. De beleza triste o de Cumpa, índio-pássaro.
A
conquista está finda e o espaço indígena já vazio, Cumpa vai para o mundo dos
brancos. Já nunca mais será livre. /
Alguém o esvaziou por dentro. / Mudaram-lhe a paisagem. / Amordaçaram seus
ossos. / E a pele foi mortalha / de um ontem que já é lembrança.
Na
imensidão da estância não é um homem livre como fora noutros tempos. Peão, sobre seus ombros cavalga / a dor de
um povo inteiro. Para libertar-se, quer voar e se lança de qualquer lugar,
dos montes, dos barrancos, cada lugar é
uma excusa para remontar ao céu. Ninguém entende esse afã e, chamado de
louco, vaga entre o mundo perdido e o mundo que não entende, desejando em
insanos vôos, reconquistar a identidade que os que lhe queimaram o grito, lhe
roubaram o deserto, os donos da
conquista tinham violentado. E ali fica, vencido e pungente com sua dor.
Nos
versos de María Cristina Casadei que o relembram é como se muitos dos homens do
Continente encontrassem ali, também, desenhado o seu destino: esse estar
perdido em meio às usurpações.t



