José María Árguedas, poeta,
narrador e ensaísta peruano, publicou seu primeiro livro de versos, Canto quechwa, em 1939. A ele, no ano
seguinte, se seguiu um outro livro de poemas, Rana Yupay e, a partir de então, sua obra em prosa: contos, romances,
ensaios.
Entre Los ríos profundos (1958) e Todas
las sangres (1964), sua visão do índio peruano, publicou, em 1961, El sexto, romance autobiográfico, fruto
da experiência de um ano como preso político. Em 1939, tinha 28 anos quando
decidiu escrevê-lo mas só o fez em 1957. Um tempo transcorrido que não lhe
apaziguou a indignação. O livro é um violento libelo contra a vida carcerária.
O romance tem início com a
chegada de Gabriel ao “Sexto”, a prisão onde o recolheram por questões
políticas. Exatamente o que fez, que idade tem, em quais condições foi preso se
irá ignorar. Saber-se-á, sim, o seu nome, que é jovem e estudante e que não pertence
a nenhum partido.
Cabe-lhe compartilhar a cela
com Alejandro Cámac, um carpinteiro das minas de Morococha e líder comunista.
E, então, viver esse dia a dia de uma descida aos infernos no seu papel de
espectador de olhos e ouvidos atentos que irão descobrir esse mundo restrito,
dividido entre os presos políticos e os marginais. Entre eles há dois que reinam
sobre todos, mancomunados com os guardas e seus superiores. As relações cruéis
que estabelecem com os demais são cruamente descritas por José María Árguedas e
entre as descrições se intercalam os diálogos dos presos políticos,
estratificados todos nas suas convicções, buscando uma solução digna para o
país.
De quando em quando, entre
os diálogos e as ações, a pausa de um pequeno texto, lembrando uma paisagem: a
da aldeia de Gabriel ou a de um entardecer em Lima. Como leitmotiv, a presença
desse chuvisqueiro cinzento, tão próprio da cidade. Retalhos de vida, algo do
exterior a penetrar nas masmorras onde as atrocidades, as perversões, o
aviltamento do ser humano constróem um mundo a parte, habitado por vítimas de
um mesmo sistema.
Porque tanto os presos
políticos como os delinqüentes comuns, ainda que se mantendo separados e
alheios uns aos outros, padecem, igualmente, do vício da instituição que, no
romance de José María Árguedas, é tão corrupta como todas as demais do país.
Os monstros em que se
transformam certos homens e que a prisão permite atuar, são filhos de uma
miséria bem administrada pelo latifúndio e pelo capitalismo para permitir o
domínio de uns poucos que se instituem os donos do país.
Com sua galeria de tipos,
com suas breves histórias que se acrescentam à linha central da narrativa, com
essa ação rápida e sempre renovada, El
sexto se mostra muito mais uma denúncia do que obra ficcional.
Ainda que a magnitude dos
horrores narrados possa levar a crer (ou deveria levar a crer) que apenas
alguma imaginação muito fértil seria capaz de engendrá-los.
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