Seu
primeiro romance, Variaciones en rojo,
recebe o Prêmio Municipal de Literatura de Buenos Aires em 1953. Quatro anos depois,
aos trinta anos, Rodolfo Walsh publica Operación
masacre um relato-documento em que, partindo de um fato real e se baseando
em documentos, entrevistas, opiniões dos sobreviventes do massacre, o
reconstrói numa irrefutável denúncia.
O
livro é exemplarmente bem construído. Primeiro, uma a uma as pequenas biografias
sob o título “Las personas” (as pessoas). Depois, os fatos, a chegada de
soldados do exército num apartamento onde estavam cerca de doze pessoas, a sua
prisão, antecedendo o fuzilamento sumário. Na terceira parte, as evidências do
ocorrido.Elas se sucedem, as pequenas vidas de pessoas simples do bairro, a base invisível, o degrau em que se apoiam os triunfadores efêmeros, os
soberbos, os tempestuosos intoxicados
de poder. Comovem pela ingenuidade de uma visão de mundo restrita ao
cotidiano da família e do trabalho e sabê-las, assim indefesas, torna muito
cruel o já cruel relato da segunda parte: a invasão de um prédio de dois
apartamentos por elementos do exército. No da frente, prenderam o dono da casa
e o homem que o visitava; no dos fundos, os vários vizinhos que ali se haviam
reunido para escutar uma luta de box.É a primeira parte da operação. Levam
todos para um ônibus de linha que tinham requisitado. Os prisioneiros se
interrogam entre si, buscando razões por terem sido presos e levados. Na
delegacia, são interrogados, são despojados de seus objetos pessoais. Novamente
conduzidos para um caminhão e, sem conhecer o seu destino, seguem para um campo
deserto, onde num monturo, recebem ordem de descer, de avançar, de parar ombro
com ombro para, então, escutar a ordem. Segue-se a descarga que atordoou a
noite e a possibilidade de salvação que um ou outro logrou vislumbrar.
Os fugitivos debandaram pelo campo noturno
como folhas arrastadas pelo vento do
pânico são as primeiras linhas do capítulo 26 que tem por título “O fim de
uma longa noite”. Assim como os seguintes, irá narrar o caminho trágico de cada
um dentre os que não morreram, procurando se salvar. Giunta, atirando-se de um
trem em movimento; Torres, refugiando-se numa Embaixada; Gavino, correndo sem
parar; Livraga, lutando contra a morte, profundamente ferido e jogado numa cela
policial.
Na
terceira parte, “Las evidencias”, são discutidas as “explicações” e as
“justificativas” oficiais sobre a operação massacre. Minuciosamente, Rodolfo
Walsh apresenta as versões que, de forma muito clara, se contrapõem ao que até
então tinha sido afirmado. Com nitidez, emergem as incongruências: pessoas que
foram detidas, sem ao menos serem identificadas uma hora e meia antes de ser
divulgada a Lei Marcial; pessoas que, em nenhum momento, resistiram à voz de
prisão; pessoas que foram presas sem culpa formada e, sem julgamento,
executadas, aleatoriamente, no meio da noite, a tiros de fuzil.
Evidências que se perdem nas folhas dos autos, dos
silêncios, das evasivas, das mentiras. Do medo.Os culpados pelo crime foram
acurralados pelas provas do jornalismo, pelo interrogatório do juiz e foram
salvos pelo Poder ao qual serviam sem qualquer prurido ético.
E,
Rodolfo Walsh se torna impotente diante de uma justiça de opróbrio, dono apenas
das palavras.
No
“Epílogo” de Operación masacre
refletirá sobre as vitórias que obteve escrevendo o livro: ter esclarecido
fatos confusos, perturbadores, até inverossímeis;
ter vencido um medo, por vezes, imenso; ter obtido a confiança dos sobreviventes,
conseguindo que falassem. Mas, sobretudo, pensará nas derrotas: o governo não
reconhecer o seu erro, deixando sem excusas as vítimas, sem uma indenização os
familiares, sem castigo os assassinos.
Termina,
perguntando-se se não perseguiu uma quimera, ao querer que a sociedade se
inteirasse dos ignominiosos fatos e certo de ter perdido algumas ilusões.Não
sabia, ainda, que por suas palavras também perderia a vida.
Em
25 de março de 1977 foi seqüestrado e seu nome figura na lista dos desaparecidos.
O que foi feito dele na conturbada Argentina de então?

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